Feliz Ano Novo!!


"Nós abriremos o livro. Suas páginas estão em branco. Nós vamos pôr palavras nele. O livro chama-se Oportunidade e seu primeiro capítulo é o Dia de ano novo."
(Edith Lovejoy Pierce)

Que neste Ano que se inicia, nós possamos escrever as mais belas passagens de nossas vidas, num roteiro onde não faltem aventuras, amigos, amores, família, prosperidade e muita paz. Que seja uma história longa, escrita em vários capítulos, onde o tempo seja nosso amigo e companheiro, para que possamos caminhar sem pressa por entre as páginas desta história, que é a nossa vida.

Um abraço amigo. Espero estarmos todos juntos nesta nova caminhada.

Feliz 2012!


"Ninguém nunca encontra a felicidade, a não ser quando cessa de procurá-la. A minha felicidade maior consiste, exatamente, em não fazer nada, absolutamente, que seja calculado para obter a felicidade. (...) Eis como resumo isso:
O céu nada faz: seu não-agir é sua serenidade.
A terra nada faz: seu não-agir é seu repouso.
Da união desses dois não-agires
procedem todas as ações,
todas as coisas são feitas.
Todos os seres em sua perfeição
nascem, portanto, do não-agir.
Daí se dizer:
'O céu e a terra nada fazem.
Nada há, porém, que não façam'.

Onde estará o homem
capaz de alcançar este não-agir?"


(Texto postado por Isadora Sodré, no blog Estrada do Sol)

Estiagem

Estou vivendo o tempo da estiagem.
Uma seca severa me assola
e não há inspiração.
Faltam-me as palavras.
A chuva de letras que alagava minha alma
há muito não cai.
E tudo o que há é o silêncio.
Olho o céu a procura das nuvens,
mas elas não estão lá.
Espero...
Sei que elas voltarão
e com elas as palavras.
Palavras que me definem.
Sem elas, sou um deserto,
amarelado e sem vida.
Estiagem...
Já sinto falta de mim.

(Elís Cândido/dezembro de 2011)

Promessas

Me prometeram 
uma vida que eu não tive.
Me prometeram 
um amor que não existe.
Me prometeram 
um jardim que não brotou.
Me prometeram o sol, 
mas ainda é noite.
Prometam nunca mais me prometer nada...

(Elís Cândido/dezembro de 2011)

Andanças

Nunca andei tanto assim,
como tenho andado,
à procura de mim...
Tanto chão, tanta estrada,
tanto passo, caminhada,
carregando este fardo
de não ter o que levar.
Levo o nada,
em minh'alma já cansada,
deste longo caminhar.

(Elís Cândido/novembro de 2011)

A Despedida


Eu também já estou indo. É chegado o tempo da partida. Não há nada mais que me obrigue a ficar. As crianças estão crescidas, a casa organizada, as plantas com boas raízes... Tudo parece caminhar muito bem sem mim. Na verdade, às vezes, acho mesmo que até atrapalho! Os meus passos lentos pela casa, a memória um pouco curta, as mesmas frases repetidas tantas vezes...
Neste dia-a-dia tão igual, tento achar alguma coisa para a qual eu seja importante, mas sei que é difícil. Até mesmo a cozinha, lugar onde eu era  soberana, já não me pertence mais. Dei lugar aos eletrodomésticos sofisticados, que fazem tudo o que eu fazia no apertar de um botão! As comidas congeladas, os temperos prontos, os sucos na caixinha... Não sou útil para espremer uma laranja!
Os meninos até que tentam conversar, mas não sou tão moderninha... Não entendo seus computadores, seus videogames, seus aparelhinhos de ouvir músicas, tudo tão pequeno que tenho medo até de tocar!
Sinto falta do meu tempo. Das minhas panelas, dos meus afazeres, meus bichos no quintal, minhas plantas no jardim, a vizinhança papeando no portão no fim da tarde... Sinto falta de um tempo que não vai mais voltar. De uma realidade que era apenas minha e que se perdeu entre os ponteiros dos relógios. Sinto falta do meu amor, amor e companhia de uma vida inteira!
Então, por mais que eu esteja bem com vocês, sinto que meu lugar não é aqui. Sinto que não há lugar para mim. Em lugar algum. De parte alguma. Eu já não pertenço a este tempo. Neste caso, devo ir.
Portanto, não há motivos para tristezas. Não há porque chorar! Vou me encontrar comigo mesma. Vou estar no lugar certo. Vou estar bem.
Só não vou mais estar aqui.

Abraços a todos os que ainda ficam. 

(Elís Cândido/novembro de 2011)

Devaneio



Passarinho na janela
me lembrou que a vida é bela
e não preciso mais chorar!
Passarinho tão bonito,
alçou voo ao infinito,
me deixando a suspirar.
Volte logo, passarinho,
em meu peito faz teu ninho,
me ensina a acreditar!
Faz-me crer que a vida é bela,
e vai além desta janela,
que o céu é o limite,
para quem tenta voar!


(Elís Cândido/novembro de 2011)

The End


Queria poder adormecer
numa cripta de vidro,
repleta de flores,
como nos contos de fadas.
Ser velada por pessoas de alma pura,
que chorem lágrimas da mais doce saudade.
Queria poder adormecer deste mundo cruel,
que me fere e me envergonha todos os dias.
Desta floresta repleta de caçadores e bruxas,
que querem levar embora toda inocência e pureza.
Já não há lugar para a infância.
Já não estamos seguros.
E não há esconderijos secretos
que os espelhos do mal não alcancem.
Eles sempre nos encontrarão...
E arrancarão os nossos corações.
Seremos pessoas frias, vazias.
Acabou-se o que era doce!
A história chegou ao fim.
E já podemos fechar o livro.

Eu queria adormecer...

(Elís Cândido/novembro de 2011)

Ponderações - Natal


E já estamos no final do ano. Já é quase Natal! As propagandas na TV invadem as nossas casas com anúncios e mais anúncios que tentam nos motivar a comprar. E eu me deixo ser levada por elas. Todos os anos é assim. É um ciclo vicioso de tentações, vontades e culpas. Fico sempre com vontade de comprar coisas, de dar presentes, de melhorar a casa, de ficar mais bonita, uma roupa nova aqui, um sapato ali... Uma tentativa meio louca de reproduzir em casa as imagens bonitas, prósperas e felizes que a TV me vende diariamente. Mas a minha vida não repete exatamente estes padrões. Eu não tenho as mesmas condições financeiras. Então me angustio. Me sinto incapaz. Me questiono sobre o que tenho feito da minha vida. Por que não mudou nada desde o ano passado? Por que a história se repete? Com as dúvidas, vêm as respostas, a minha parcela de culpa é lançada na minha cara: o meu comodismo, a minha falta de preparo, as escolhas erradas que fiz... eles são fantasmas que irão cear comigo. E o tempo vai passando, os preparativos mais intensos, as propagandas continuam, as campanhas... Começo então e me questionar se o Natal é apenas isto. Será isto o Natal? Percebo que estou me perdendo. Que não são estes os conceitos corretos. Que o Natal se faz com partilha, com fé, com alegria no coração, com a certeza de que estamos todos juntos e por isto estamos todos bem. Vejo que o importante no Natal é a minha família. São os meus filhos ao meu lado. O som dos sorrisos e da alegria nas casas vizinhas. Os telefonemas de congratulações, os e-mails carregados de emoção... E a magia acontece mais uma vez! E eu entendo que o Natal é exatamente isto: MAGIA! É amar! É acreditar! E, como todos os anos acontece, eu tenho um Natal feliz!!! 
Que esta magia se repita! Que todos possamos ter um Natal próspero e feliz, cheio de alegrias, muita paz e ao lado daqueles a quem amamos!!!

(Elís Cândido/novembro de 2011)

Gotas


Gotas.
Na torneira,
pin
    gan
          do
De chuva,
mo
    lhan
         do
De lágrimas
ex
    tra
        va
           san
                do
toda a dor que trago em mim...

(Elís Cândido/novembro de 2011)

Primavera Ausente

Chove lá fora
e aqui dentro faz frio.
As horas se arrastam lentamente,
me arrastando com elas
para um mundo de loucura
onde nada faz sentido.
Acordo e durmo,
deito e levanto
e nada parece mudar,
nem o tempo,
nem a chuva,
nem eu mesma.
Dias cinzentos.
Ares sufocantes.
Palavras engasgadas.
Pesados silêncios.
Quando voltará a primavera?

(Elís Cândido/novembro de 2011)

Uma Visão do Fim do Mundo


Cairão os céus sobre as nossas cabeças, numa tarde que se fará noite. Em tempos que parecerão eternos. E tudo então se acabará. Haverá dos céus um estrondo, como nunca antes se ouviu. E feixes de luz cortarão as nossas vistas como carruagens de fogo. Muitos tentarão salvar-se. Poucos o conseguirão. Para os que se salvarem (Será que podemos chamar salvação?), haverá ainda muita tristeza. E dificuldades sem fim. Os pastos não mais verdejarão. As águas estarão infectas. Rios e mares chorarão as dores de uma Terra adoecida e mutilada pelas maõs dos homens. Serão dias de uma escuridão nunca vista. O breu tomará o mundo, numa nuvem pesada e sufocante. Aqueles que respirarem de seus odores cairão por terra. Os que conseguirem ficar a salvo, não deverão sair de suas casa. Lá, poderão iluminar-se com a luz santa vinda das velas de cera. Serão três dias e três noites. Serão estes os tempos da colheita. Da purificação. Sobrarão apenas os escolhidos. Aqueles que foram eleitos. O arco-íris surgirá então na Terra. E assim também o Sol. E a Terra renascerá!

Estátua de Areia

Fui moldada pelas mãos delicadas do artista
que por amor me fez bela
e pela dor me fez triste.
Esculpida no desejo insano de um amante
à procura daquele amor
que não mais retornará.
Lágrimas de sal alicercaram minhas formas
para que eu pudesse suportar os ventos mais fortes.
Uma obra-prima! 

Olhares curiosos amontoam-se ao meu redor.
Mas não me vêem.
Não me enxergam.
Vêem apenas uma estátua de areia.
Cinza, fria e úmida como as noites de inverno.
Tenho tanto calor em mim!
Não percebem, estes tolos.
Apenas olham e se vão.
Eu fico.
Só.

Meu artista não retorna?
Outro dia e ele não vem...
Gaivota me falou que ele anda em outras praias,
esculpindo novas formas.
Sinto que me abalo e me desmancho.
Rogo ao mar para que me leve!
Não tem sentido a minha existência,
sem o meu dono e senhor,
sem meu artista e criador.
Por ele nasci e por ele morrerei.

De volta ao início,
onde eu era apenas pó!

(Elís Cândido/novembro de 2011)

Os Lados


Há um lado bom em mim.
O morto não é responsável
Nem o rumor de um jasmim.
Há um lado mau em mim,
Cordial como um costureiro,
Tocado de afetações delicadíssimas.

Há um lado triste em mim.

Em campo de palavra, folha branca.

Bois insolúveis, metafóricos, tartamudos,

Sois em mim o lado irreal.

Há um lado em mim que é mudo.

Costumo chegar sobraçando florilégios,
Visitando os frades, com saudades do colégio.

Um lado vulgar em mim,

Dispensando-me incessante de um cortejo.
Um lado lírico também:

Abelhas desordenadas de meu beijo;

Sei usar com delicadez um telefone,
Nâo me esqueço de mandar rosas a ninguém.

Um animal em mim,

Na solidão, cão,
No circo, urso estúpido, leão,
Em casa, homem, cavalo...

Há um lado lógico, certo, irreprimível, vazio

Como um discurso,
Um lado frágil, verde-úmido.
Há um lado comercial em mim,
Moeda falsa do que sou perante o mundo.

Há um lado em mim que está sempre no bar,

Bebendo sem parar.

Há um lado em mim que já morreu.

Às vezes penso se esse lado não sou eu.



(Paulo Mendes Campos)

A Viagem




Deitado sobre a pedra fria
ouço os soluços ao longe
e os passos daqueles que se achegam
para o derradeiro momento.


Não sinto frio ou dor.
Na verdade nada sinto.
Um estado de completude me toma
e nada mais me falta.


Não sei para onde vou.
E não carrego bagagens.
Trago apenas as lembranças.
Guardadas dentro de mim.


Já não tenho mais desejos
ou sonhos, ou sofrimentos.
Estou aqui e é só.
Este momento derradeiro é tudo o que existe.


(Elís Cândido/novembro de 2011)

Frases e Pensamentos...



"Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo."

(Carlos Drummond de Andrade)

Projeções


Em você encontrei
tudo o aquilo o que eu queria ser
E não era.
O sorriso fácil
As palavras soltas
Os passos firmes e decididos
E um leve descompromisso.
Este jeito criança,
meio travesso,
minha alma envelhecida encantou.
Eu me via em você.
Me espelhava em você.
Queria mesmo SER você.
Sem deixar de ser eu.
Sem me perder de mim.
Sem sair do pedestal.
Ou parecer tola...
Mas não consigo ser assim.
Então, basta-me refletir você.
À sua maneira.


Projeções de um amor que me completa!


(Elís Cândido/novembro de 2011)

Desabafo!


Vergonha! Posso dizer que é isto o que sinto dos meus semelhantes. Vergonha. Acho que eles não são meus semelhantes. Me recuso a ser parecida com este tipo de gente. Não me considero uma pessoa especial, uma alma pura, mas, certamente, igual a eles eu não sou!
Algumas pessoas conseguem ser indiferentes aos maus tratos para com os animais. Eu não consigo.  Esta crueldade me causa náuseas. Como ferir alguém que não sabe, ou não pode se defender?! Como abandonar um animal à sua própria sorte, após anos e anos de convívio?!
No jornal de hoje pude ler uma notícia de um cachorro que foi enterrado vivo, na África. A justificativa, se é que se possa chamar assim, foi de que ele fazia muito barulho e atrapalhava as aulas da escola que ficava ao lado. Se fosse uma criança chorona ela teria sido enterrada também? Se fosse um jovem com uma carro barulhento ele seria enterrado também? Nada justifica uma atrocidade destas! Estas pessoas não podem ser consideradas humanas, normais. Precisamos punir comportamentos como este. Estas pessoas é que são os irracionais, os animais. 
Me entristeço ao perceber que faço parte de uma minoria que se preocupa com os animais. Muitas vezes sou ridicularizada por isto. Não me importa!
Fica aqui o desabafo de uma pessoa que sofre, que chora e que se revolta ao presenciar atitudes como esta. Sei que não vou poder evitar que todos os animais do mundo sofram, ou que mais situações assim ocorram, mas fica aqui o apelo a todos os que se importam, para que não se deixem calar frente à injustiças como esta, para que intervenham e denunciem os maus tratos aos animais. É o mínimo que podemos fazer, mas já significa muito, significa dar o primeiro passo rumo à garantia dos direitos destes animais!

(Elís Cândido/outubro de 2011)

Frases e Pensamentos...


"De todos os sons deste mundo, nenhum é mais doce que o sorriso de uma criança!"

(Elís Cândido/outubro de 2011)

Butterfly


Sou como a borboleta triste
que desiste de voar.
Sou igual à borboleta
que, alada, já não voa.
A tristeza faz-se um peso
e me impede o alçar.
Sou uma pobre borboleta!
Colorida!
Tão bonita!
Impedida de voar!

(Elís Cândido/outubro de 2011)

O Cortejo Fúnebre

Descia lento pela alameda
numa cadência quase ritmada
lamentos tristes se ouviam ao longe
como uma canção mal terminada.

Seguia em frente o cortejo
juntando gente à caminhada
em direção ao sepulcro
no cemitério da velha estrada.

Choravam lamentos pequenos
pequenos soluços escapavam
enquanto, a passos lentos,
do final se aproximavam.

Crianças corriam ao redor
com a inocência de quem não sabe o que faz,
davam graça ao momento,
talvez um pouco de paz.

Havia uma certa beleza
e até um certo ritual
com adeus da família, dos amigos,
neste cortejo final.

Deitado nos braços da terra,
como semente lançada ao chão,
deixou sua  casa vazia
sem o pai, o amigo, o irmão.

Triste é esta caminhada
em direção à velha estrada,
levando nas mãos uma vida,
subindo de volta sem nada.

(Elís Cândido/outubro de 2011)

Frases e Pensamentos...



"Sábios são aqueles que conseguem dizer TUDO mesmo quando não dizem NADA."

(Elís Cândido/outubro de 2011)

Ao irmão que tive...


Adeus ao irmão que tive.
E que não tenho mais.
Foi-me roubado ainda na infância.
Sem que nada me perguntassem.
Sem saber se doeria.
Ou da falta que me faria.
Sem nenhuma condolência.
Apenas o levaram.
Levando junto parte de mim.
E a essência dos meus pais.
Sobraram duas almas sem vida.
Cujos olhos não tinham brilho.
Brilhavam antes, eu bem me lembro...
Mas depois que ele se foi,
foram-se embora os sorrisos.
Ficando apenas o vazio.
E uma casa preenchida de ausência.
Que falta ainda me faz este irmão que tive.
E que não tenho mais.
Quanta falta ainda faz!

(Elís Cândido/13 de outubro de 2011)

Tempestades


Sinto meu estômago revirar
como se navegasse em águas bravias.
Meu corpo se retorce e os ossos reclamam
como esqueletos descobertos pelos ventos do deserto.
A garganta arranha sons que saem como grunhidos.
Esqueci as palavras.
Raios e trovões ecoam em minha cabeça
nesta tempestade interna que teima em não passar.
Quando virá a calmaria?
Já não sei se resisto.
Se insisto.
Se desisto.
Se existo.
Já não sei mais.

(Elís Cândido/outubro de 2011)

O Estranho

Quem é esta pessoa,
que agora ronda a minha vida?
Quem é este personagem
Esta figura
Quem é você?
Onde está aquele outro homem?
Aquele que eu amava
E conhecia tão bem?
Para onde ele se foi?
Olho dentro dos teus olhos,
mas não o vejo mais.
Vejo apenas este estranho.
E não me acostumo com ele.
Sua presença me incomoda.
Quero ir, mas não posso.
Preciso ficar aqui.
Cuidar da nossa casa,
da nossa vida,
das nossas coisas...
Para quando você voltar.

(Elís Cândido/setembro de 2011)

Surdez

Não consigo ouvir mais nada!
Não ouço as vozes do mundo
que gritam ao meu redor.
Não escuto o cantar alegre dos passarinhos
que brincam na minha janela.
As canções de amor  emudeceram.
Tudo o que ouço é o silêncio.
Um silêncio enorme.
Sufocante,
feito uma nuvem densa e cinza,
dançando em volta de mim.
Fecho meus olhos e sinto meu coração bater com força.
Fico aqui e espero esta nuvem passar...

(Elís Cândido/setembro de 2011)

Insônia

Meus filhos dormem.
Os cães dormem.
A casa toda parece dormir.
Apenas eu estou condenada a vagar...
Ouço os ruidos da noite,
e vejo as sombras na janela.
Caminho às cegas pela casa.
Esperando amanhecer um novo dia...
Longa é a noite que me espera!
Quando me deito e não consigo dormir.

(Elís Cândido/setembro de 2011)

Distâncias


O que houve entre nós?
Que distância é esta
que se impôs como paredes blindadas
E que já não nos deixa ver
o amor que ali havia antes.
Antes das brigas
Antes da espera
Antes do nada
Que agora habita entre nós

Não sobrou nada
Nem cacos
Ou brigas
Ou palavras a serem ditas
Já as dissemos todas
Há somente esta distância incômoda
Medindo a nossa falta de amor.

(Elís Cândido/setembro de 2011)

Súplica Cearense















Oh! Deus, perdoe esse pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo para chuva cair, cair sem parar
Oh! Deus, será que o senhor se zangou
E só por isso que o sol se arretirou
Fazendo cair toda chuva que há
Oh! Senhor, pedi pro sol
Se esconder um pouquinho
Pedi pra chover, mas chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta, uma planta no chão
Oh! Meu Deus, se eu não rezei direito
A culpa é do sujeito
Desse pobre que nem sabe fazer oração
Meu Deus, perdoe eu encher
Os meus olhos de água
E ter lhe pedido cheio de mágoa
Pro sol inclemente se arretirar
Desculpe pedir a toda hora pra chegar o inverno
E agora o inferno queima o meu humilde Ceará
Oh! Senhor, pedi pro sol
Se esconder um pouquinho
Pedi pra chover, mas chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta, uma planta no chão.

(O Rappa)

Poesias ao Vento


Dizem que palavras, o vento leva
Quero que as minhas voem bem alto
Transponham as barreiras e as distâncias
Percorram vales e montanhas
Alcancem os corações de todos
Das pradarias aos desertos

Que bons ventos as levem!
Na forma de rimas e de festas,
de lamentos e de dores,
nos desabafos solitários,
ou na sofreguidão dos amores.

Elís Cândido/setembro de 2011)

Um Brinde ao Fim

Imagem retirada de Promakeproducoes.blogspot.com

O Senhor das Trevas está entre nós!
Posso percebê-lo à espreita, observando e analisando cada ser humano. Nada escapa ao seu olhar de ave de rapina... Ele ronda. Ele estuda. Ele ataca! Não há como fugir de suas garras. Somos todos ovelhas débeis e frágeis, correndo rumo ao desfiladeiro.
"No final, haverá choro e ranger de dentes" É chegado o fim! Dentes rangem e lágrimas  salgadas escorrem dos olhos dos pobres mortais. Suas almas foram perdidas há tempos... Não há caminhos para voltar. 
Não somos então Sodoma e Gomorra? Não vivemos de luxúria, lascívia, embriaguez. Os pais violentam seus filhos. Os filhos desrespeitam seus pais. Os irmãos se matam e se odeiam. Não somos então Caim e Abel? Estamos tentando outra expulsão do Paraíso?
Como na Torre de Babel, já não falamos mais a mesma língua. Não nos entendemos. Não nos comunicamos. Não há diálogo. Nos perdemos uns dos outros.
Ele, o Senhor das Trevas, aproveita as nossas fraquezas! Ele as usa para sugar o nosso sangue, do qual se alimenta. Quanto mais fracos nós nos tornamos, mais ele se fortalece! Fome, secas, enchentes, pragas, tempestades, crimes hediondos... Ele pode se manifestar de várias formas.
E nós, ainda tememos o Fim do Mundo! Vocês não percebem que tomamos a saideira todos os dias? Bebemos e brindamos ao fim com o veneno que nós mesmos fabricamos. Encham as suas taças! Elas estão repletas do sangue dos inocentes. O sangue que é derramado todos os dias. Por vocês e por mim.
Brindemos! Até que as luzes se apaguem e a os últimos acordes soem pelos ares. 
Brindemos ao Fim!

Elís Cândido/setembro de 2011)

O Pessegueiro e o 11 de setembro



Já vai amanhecer o dia... Um novo 11 de setembro. Parece que foi ontem. Todo o terror e o espanto ainda estão vivos na memória de todos. Sei que não falo apenas por mim. Somos todos sobreviventes daquele atentado.
Quem não consegue se lembrar exatamente do que estava fazendo, do momento em que viu pela primeira vez a cena daqueles aviões? Quem não sente ainda hoje a dor, o espanto, a angústia, a vergonha? São marcas, sentimentos, lembranças que ficarão em nós para sempre.
Passados dez anos, segue a vida. Constrói-se um Memorial, para que todos se lembrem daquele lugar, para que não se esqueçam daquelas pessoas. Não seria preciso! Lembraríamos de qualquer maneira. Mas o Memorial é um símbolo desta dor, destas ausências. 
Poucas pessoas sabem, mas em meio a toda esta história, e em meio a tantas histórias que há dentro desta história, há a história de um pessegueiro valente.
Quando se decidiu construir um Memorial no local das Torres, ainda em meio aos escombros e à desolação, as equipes de trabalhos encontraram uma árvore ainda de pé, ainda viva! Um velho pessegueiro. Ele assistiu a tudo. Sobreviveu a tudo. Estava lá, vivo! A decisão de preservá-lo foi imediata. Não seria possível conceber o Memorial sem aquela árvore!
Enquanto os anos se passavam e o Memorial ia sendo levado adiante, outra tragédia se abateu: em 2010 as tempestades assolaram a cidade e várias árvores foram derrubadas pela força dos ventos. Entre elas, nosso velho pessegueiro também foi atingido. A equipe reunida, analisou o estado da árvore, observou que suas raízes estavam firmes, apenas abaladas. Colocaram âncoras, esteios, trataram , auxiliaram, cuidaram da velha guerreira, que mais uma vez se manteve firme, erguida, viva!
Os profissionais que atuaram nos resgates e nos escombros das Torres Gêmeas estão morrendo aos poucos pela intoxicação. São mortes silenciosas, que a TV não mostra, que não traz sensacionalismo, que não vira manchetes nos jornais... Mas eles estão morrendo. Um dos maiores responsáveis pela idéia e pela preservação do velho pessegueiro no Memorial declarou ter apenas cerca de sete ou oito anos de vida pela frente. Mas ele não reclama. Diz que se estivesse lá, faria todo igual, novamente. 
Estas pessoas são como este velho pessegueiro. Fazem o seu papel. Lutam pela sua causa. realizam o seu trabalho. Não pedem nada em troca. São heróis de uma resistência muda.
Neste dia gostaria que todos soubessem desta história. Da história de um Pessegueiro e de heróis valentes, que lutaram pela vida dos outros e que lutam hoje pelas suas próprias vidas!
Sigamos em frente e lutemos também pelas nossas causas, pelas nossas vidas, mas não esqueçamos da grande lição que este dia nos deixou.


(Elís Cândido/setembro de 2011)

O Cancioneiro Triste


"Todo o estado de alma é uma passagem. Isto é, todo o estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. Há em nós um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se agita. Assim uma tristeza é um lago morto dentro de nós, uma alegria um dia de sol no nosso espírito. E - mesmo que se não queira admitir que todo o estado de alma é uma paisagem - pode ao menos admitir-se que todo o estado de alma se pode representar por uma paisagem. Se eu disser "Há sol nos meus pensamentos", ninguém compreenderá que os meus pensamentos são tristes."
(Cancioneiro - Fernando Pessoa)

Sou como o cancioneiro triste,
que triste vaga pelos jardins.
Sinto os cheiros das flores,
observo suas cores,
mas nada sai a brotar de mim.

Sou apenas um cancioneiro triste,
caminhando pelos desertos,
lamentos saltam de minha boca,
enquanto trilho passos incertos.

Sou aquele cancioneiro,
que ao passar pelas janelas,
arranca gotas de saudades,
dos olhos das jovens donzelas.

Elas choram seus amores,
suas dores, decepções,
choram tanto estas donzelas,
ao ouvir minhas canções.

Um cancioneiro triste,
isto é tudo o que sou,
sem saber ser nada mais,
só o canto me restou.

Em meu caminho solitário,
muita gente nem me vê,
passa alerta e adiante.
Mas poderia ser você,
este cancioneiro errante.

Pois um dia tive vida,
tive um lar e tive amor,
mas a vida, esta bandida,
meus tesouros me tirou.

Terra infértil me tornei,
nada nascerá de mim,
a não ser estas canções,
que são lamentos de minh'alma,
que espera angustiada,
desta longa caminhada,
poder ver chegar o fim.

(Elís Cândido/setembro de 2011)

Fugaz


Por que me faz tão mal
aquilo o que me faz bem?
Se não podes amar a mim,
amarás então a quem?
Este amor é minha vida 
e a minha perdição.
Sem você estou perdida,
sinto que me falta o chão.
O que sentes por mim, bem sei,
que não passa de paixão.
Fogo fugaz, de chama breve,
que se perde com o tempo.
Que será de mim, então?
Se meu amor é meu tormento...


(Elis Cândido/setembro de 2011)

Chão de Flores

os caminhos por onde andei
falam muito sobre mim
deixei marcas sobre eles
e eles deixaram em mim
falam tanto estas curvas
e as retas desta estrada
cada pedra e cada galho
cada gota de orvalho
eu sou o chão em que piso
e a ele irei voltar
quando já feita a caminhada
minha alma descançar
quero poder virar semente
e da semente um botão
me fazer flor
brotar do chão
este é o ciclo da vida
onde tudo se transforma
se renova e não se acaba
vira apenas outra peça
que compõe a mesma estrada

(Elís Cândido/setembro de 2011)

Um Pouco de Cor e de Beleza...

Portinari

Mais Valia

Portinari
Labuta.
Trabalho.
Labor.
Profissão.
Emprego.
Amor.
Fardo.
Cruz.
Lida.
Dinheiro.
Dignidade.
Vida.
"Cada um dê ao que tem o valor que quiser dar!"

Ventania

Imagem retirada do Google


Por que uivam os ventos?
Que dores eles gemem?
Quantas angústias carregam seus gritos...
De onde será que eles vêm?
Dos cantos remotos da Terra.
ou de profundezas sombrias?
De onde saem para espalhar a sua ira?
Os seus silvos.
A destruição.
Porque varrem assim  nossas cidades?
E as casas.
Os jardins?
Porque agitam as grandes águas,
em ondas de uma força sem fim?
Quem lhes fez tão mal assim,
para que tragam apenas dor e sofrimentos?
Já se esqueceram de quando eram brisas,
calmas e frescas brincando nos cabelos das meninas...
O que os fez tão mal assim?

(Elís Cândido/agosto de 2011)

Incoerências do Amor


Amor é coisa assim,
que bagunça a vida da gente.
Entra sem permissão,
tira tudo dos eixos
e faz sumir o ar.
Adorável loucura é este mal de amar!
Quem nunca amou não sabe o quê.
E quem ama entende bem.
Morrer de amar vale à pena.
Tanto dói quanto faz bem.


(Elis Cândido/agosto de 2011)