O Pessegueiro e o 11 de setembro



Já vai amanhecer o dia... Um novo 11 de setembro. Parece que foi ontem. Todo o terror e o espanto ainda estão vivos na memória de todos. Sei que não falo apenas por mim. Somos todos sobreviventes daquele atentado.
Quem não consegue se lembrar exatamente do que estava fazendo, do momento em que viu pela primeira vez a cena daqueles aviões? Quem não sente ainda hoje a dor, o espanto, a angústia, a vergonha? São marcas, sentimentos, lembranças que ficarão em nós para sempre.
Passados dez anos, segue a vida. Constrói-se um Memorial, para que todos se lembrem daquele lugar, para que não se esqueçam daquelas pessoas. Não seria preciso! Lembraríamos de qualquer maneira. Mas o Memorial é um símbolo desta dor, destas ausências. 
Poucas pessoas sabem, mas em meio a toda esta história, e em meio a tantas histórias que há dentro desta história, há a história de um pessegueiro valente.
Quando se decidiu construir um Memorial no local das Torres, ainda em meio aos escombros e à desolação, as equipes de trabalhos encontraram uma árvore ainda de pé, ainda viva! Um velho pessegueiro. Ele assistiu a tudo. Sobreviveu a tudo. Estava lá, vivo! A decisão de preservá-lo foi imediata. Não seria possível conceber o Memorial sem aquela árvore!
Enquanto os anos se passavam e o Memorial ia sendo levado adiante, outra tragédia se abateu: em 2010 as tempestades assolaram a cidade e várias árvores foram derrubadas pela força dos ventos. Entre elas, nosso velho pessegueiro também foi atingido. A equipe reunida, analisou o estado da árvore, observou que suas raízes estavam firmes, apenas abaladas. Colocaram âncoras, esteios, trataram , auxiliaram, cuidaram da velha guerreira, que mais uma vez se manteve firme, erguida, viva!
Os profissionais que atuaram nos resgates e nos escombros das Torres Gêmeas estão morrendo aos poucos pela intoxicação. São mortes silenciosas, que a TV não mostra, que não traz sensacionalismo, que não vira manchetes nos jornais... Mas eles estão morrendo. Um dos maiores responsáveis pela idéia e pela preservação do velho pessegueiro no Memorial declarou ter apenas cerca de sete ou oito anos de vida pela frente. Mas ele não reclama. Diz que se estivesse lá, faria todo igual, novamente. 
Estas pessoas são como este velho pessegueiro. Fazem o seu papel. Lutam pela sua causa. realizam o seu trabalho. Não pedem nada em troca. São heróis de uma resistência muda.
Neste dia gostaria que todos soubessem desta história. Da história de um Pessegueiro e de heróis valentes, que lutaram pela vida dos outros e que lutam hoje pelas suas próprias vidas!
Sigamos em frente e lutemos também pelas nossas causas, pelas nossas vidas, mas não esqueçamos da grande lição que este dia nos deixou.


(Elís Cândido/setembro de 2011)

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