De Profundis


Tive que engolir minhas palavras...
A seco. 
Elas desceram arranhando e me reviraram as entranhas. 
Minha boca amarga como se tivesse bebido um bourbon sem gelo. 
As lágrimas escorrem pelo meu rosto e deixam um rastro salgado por onde passam.
Melhor dormir.
Em meu sono o mundo é doce.
As palavras são de amor.
E tudo o que há de salgado é o mar.

(Elis Cândido/outubro de 2013)

Mudez


Vejo pessoas sorrindo
Vejo pessoas chorando
Dentes que se abrem de alegria
ou que rangem pela dor

Vejo olhos que cobiçam,
que invejam
e desejam
Vejo ira em tanto olhar...

Vejo olhos de doçura,
de paixão 
e de loucura
Olhos que falam de amar

Vejo bocas blasfemando 
bocas que ofendem sem parar
Vejo bocas se entregando
a outras bocas
Bocas que sabem amar

Vejo mãos que agridem
que torturam
e trazem dor
Vejo mãos que arrepiam
mãos que emanam calor

Vejo coisas... 
Ouço coisas...
Penso coisas...
Mas minha boca se cala
Cansei da fala.

(Elis Cândido/setembro de 2013)

Eu, as curvas e as estradas


Aquela curva,
no fim da estrada
a que caminhos pode levar?
Aquela estrada, 
no fim da curva
minha vida iria mudar?
Vejo carros que vêm 
e vão.
Pessoas a sair e retornar.
O que muda?
O que os faz ir
e o que os faz voltar?
Será então que eu mudaria,
se saísse do lugar?

(Elis Cândido/setembro de 2013)

Cigana


Braços erguidos
num corpo que dança
em rodopios
me entrego ao luar

Sou bruxa na noite
sou loba no cio
estrela cadente
a te encantar

Te chamo 
te trago
te prendo em meus braços
te faço sonhar

Sou tua
sou solta
sou minha
Sou vida!

(Elis Cândido/setembro de 2013)

Buscas


Não sei o que acontece
que quanto mais te chamo
mais de mim
você se afasta.

Onde erro?
Não sei mais o que fazer
para trazer você
para mim.

Vivo só
e ninguém vê...
Ninguém sabe desta dor
que carrego em meu peito.

Junto à dor
trago sonhos
e com eles vou viver...
Não desisto deste amor
Não desisto de você.

(Elis Cândido/setembro de 2013)



A idade das pedras


Quando eu tiver a idade destas pedras
que o mar acaricia com língua salgada
e o meu futuro forem apenas memórias
esvoaçando nas quilhas do esquecimento
não mais serei refém desta melancolia
que o vento desenha no areal do entardecer.

Quando eu for da idade destas pedras

lambidas pelo embalo da ondulação
e meu nome tiver sido apagado da areia
pela espuma branca de muitas marés
sentar-me-ei aqui neste velho pontão
como uma embarcação ancorada ao sol
na eterna transparência de um voo suspenso
a decifrar o segredo azul dos oceanos.o que é e-mail marketing

(Postado por Runa, em Seguindo o escoar do tempo)

Caminhos


Caminhos
Passos 
Caminhada
Partida
Chegada

Sabemos para onde vamos?
Sabemos pelo menos onde estamos?

Continuamos...
Mais uma estrada
Caminhos
Passos
Caminhada

(Elis Cândido, junho de 2013)

As ensinanças da dúvida


Tive um chão (mas já faz tempo)
todo feito de certezas
tão duras como lajedos.

Agora (o tempo é que o fez)
tenho um caminho de barro
umedecido de dúvidas.

Mas nele (devagar vou)
me cresce funda a certeza
de que vale a pena o amor.

Thiago de Mello

Idas


A passos lentos
por caminhos tortuosos
seguindo em frente
eu vou

Tentando não parar
não me deixar levar
pelas tristezas
e angústias
eu vou

Ventos me levam
e me guiam
tentando orientar
este voo
em que eu vou

Pássaro livre
e sem ninho
entoando uma triste canção
eu sou

E assim vou

Sem saber onde vou
onde estou
ou quem sou
mesmo assim vou

Porque esta ida é tudo o que me resta

(Elis Cândido/abril de 2013)


Broken


Uma pontada no peito...
Certeira e tão dolorida...
Deixou minha boca amarga
E reabriu a ferida.

Como fui esquecer esta dor?
Quando me permiti sofrer outra vez?
Desatenta eu fui.
E pago agora o preço.

Deveria me lembrar
que você não é obrigado
a me amar...
Mas me esqueci
e agora sofro...

Só restaram cacos ao redor de mim.

(Elis Cândido/março de 2013)


É uma certeza tão grande e que não sei de onde vem...

Uma paz imensa, que me acalma e me faz bem...
É como ter um amigo por perto,
ganhar um abraço forte e um sussurro no ouvido:
Fique tranquilo... estou aqui. Vai dar tudo certo!

(Elis Cândido/março de 2013)

Um Copo Vazio


Um copo vazio
esquecido num canto do bar
Sem serventia...

Largado sob os efeitos do tempo
que o embaça
e  tira toda a vida.

Não há lembranças das tardes alegres
dos brindes 
e gargalhadas.

Opaco e sujo.
Um copo vazio à espera do fim.

Assim é meu coração
que já não ama,
que já não vive.

Um copo vazio...
Esquecido num canto qualquer.

(Elis Cândido/março de 2013)



Sola, perduta, abbandonata


Hoje não quero pensar em nada.
Dizer nada.
Decidir nada.

Estou parada no meio do caminho
E não sei para onde ir.

Confundo sonhos com realidade.
Caminho nas nuvens e durmo
com meus olhos abertos.

Estou confusa e perdida,
num turbilhão de pensamentos 
que me deixa atônita.

Estou só.

Mas sei que na verdade
sempre estive só.
Nada mudou.

Acho que eu é que mudei...

E me sinto cansada.
Sola, perduta, abbandonata...

(Elis Cândido/ fevereiro de 2013)

Visão


O que eu vejo em você
Ninguém mais pode ver
Pois não vejo com os olhos do corpo
Mas com os olhos da alma

Você me alegra
Me encanta
Me acalma

Pena eu não poder te dizer
Toda a beleza que vejo em você

(Elis Cândido/fevereiro de 2013)

Classificados do Amor




Procura-se um amor que goste do céu!
Procura-se um amor que goste do mar!
Procura-se um amor que admire um pássaro livre.
E que seja livre para amar.

Procura-se um amor que seja forte,
mas delicado em suas palavras.
Que tenha o perfume amadeirado das tardes de outono
E o calor gostoso de uma manhã de janeiro.

Procura-se alguém que saiba amar por inteiro!
Que não tenha medo de se entregar.
Que tenha abraços fortes e beijos doces.
Que eu me perca em seu olhar...

Procura-se alguém que saiba amar!

(Elis Cândido/fevereiro de 2013)

Chuva!


Chuva!
Venha calma
Venha mansa
Encharcando a minha trança
Pra eu dançar feito criança
Pulando poças a sorrir!

Chuva!
Venha boa
e generosa
pra fazer brotar a rosa
que eu trago no jardim...

Chuva!
Vem lavar a minha alma
Minhas dores abrandar
me fazer leve e solta
nas tuas gotas a bailar!

(Elís Cândido/janeiro de 2013)


Os Abutres


Os abutres estão à espreita...
Aguardam o derradeiro dia.
Voam em círculos, silenciosos
Ou acompanham meus passos,
pousados nos galhos das árvores ressequidas.

Os abutres estão à espreita!
Me observam dia e noite.
Posso sentir sua respiração profunda
E o regozijo antecipando a ceia farta...

Eles estão à espreita...
E se ocupam tanto de mim
que não percebem que na escuridão da vida
há outros à espreita deles mesmos...

(Elís Cândido/janeiro de 2013)