Filme de quinta



Quisera eu viver num filme
em que as princesas e os dragões fossem verdades.
Um filme com mocinhos de alma pura
e vilões repletos de maldade.

Quisera eu viver de contos.
De amor e poesia,
valentia e bravura,
de gnomos e duendes,
fadas, bruxas e serpentes.

Uma história sem fim,
com trilha sonora envolvente,
figurinos de pura seda
e um diretor convincente.

Pois neste filme em que vivo
e para o qual não há dublê,
os mocinhos são fracos,
os vilões disfarçam-se em cordeiros
e as mocinhas se perderam em vaidades.

E a platéia?!
Acompanha a tudo
discutindo e opinando,
como se não fossem eles
também atores de quinta.
De filmes sem qualidade.

Preferia os dragões.
Soltando fogo pelas narinas.
E os vilões.
Absolutamente covardes.
Que este povo mesquinho,
travestido em bondades.

(Elís Cândido - maio de 2010)

Este Quarto...



Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...

que me importa esse quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! Imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.

Pois o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousado em mim.

A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim...

Mario Quintana

Primeiro, não queremos perder


Primeiro, não queremos perder
É lógico não querer perder.
Não deveríamos ter de perder nada:
Nem saúde, nem afetos, nem pessoas amadas.
Mas a realidade é outra:
Experimentamos uma constante alternância de ganhos e perdas.

Segundo:
Perder dói mesmo.
Não há como não sofrer.
É tolice dizer não sofra, não chore.
A dor é importante.
O luto também.

Terceiro:
Precisamos de recursos internos para enfrentar a tragédia e a dor.
A força decisiva terá que vir de nós, de onde foi depositada a nossa bagagem.
Lidar com a perda vai depender do que encontrarmos ali.

A tragédia faz emergir forças inimagináveis em algumas pessoas.
Por mais devorador que seja, o mesmo sofrimento que derruba faz voltar a crescer.

Quando é hora de sofrer não temos de pedir licença para sentir, e esgotar, a dor.
O luto é necessário, ou a dor ficará soterrada, seu fogo queimando nossas últimas reservas de vitalidade e fechando todas as saídas.

Aprendi que a melhor homenagem que posso fazer a quem se foi é viver como ele gostaria que eu vivesse: bem, integralmente, saudavelmente, com alegrias possíveis e projetos até impossíveis.

Lya Luft

QUEM SOU EU?



Nesta altura da vida já não sei mais quem sou...
Vejam só que dilema:

Na ficha da loja sou cliente, no restaurante sou
freguês, quando alugo uma casa inquilino, na
condução passageiro, nos correios remetente,
no supermercado consumidor.
Para a Receita Federal contribuinte, se vendo algo
importado contrabandista.
Se revendo algo, sou muambeiro, se o carnê tá
com o prazo vencido inadimplente, se não pago
impostos sonegador.
Para votar eleitor, mas em comícios massa, em
viagens turista, na rua caminhando pedestre,
se sou atropelado acidentado, no hospital paciente.
Nos jornais viro vitima, se compro um livro leitor,
se ouço rádio ouvinte.
Para o ibope espectador, para apresentador de
televisão telespectador, no campo de futebol
torcedor.
Se sou corintiano, sofredor, se sou palmeirense,
sou porco, se sou santista, sou peixe, se sou
são paulino, sou pó de arroz...
Agora já virei galera.
Se trabalho na Anatel, sou colaborador e, quando
morrer... uns dirão... finado, outros... defunto, para
outros... extinto, para o povão... presunto...
Em certos círculos espiritualistas serei... desencarnado,
evangélicos dirão que fui... arrebatado...
E o pior de tudo é que para todo governante sou apenas
um imbecíl!!!
E pensar que um dia já fui mais EU.


(Luiz Fernando Veríssimo)
Retirado do Blog Pelos Caminhos da Vida

Perdoa-me



Perdoa-me pois eu pequei
por atos e palavras,
pensamentos e omissões...
Por minha culpa,
minha máxima culpa.

Tantas vezes não soube amar ao meu próximo.
Aceitar as diferenças.
Respeitar as limitações alheias.
Olhar com os Teus olhos.

Perdoa-me por querer sempre mais.
Por almejar o que não tenho.
Sem dar valor ao que me cerca.
Sem agradecer pelo que possuo.

Perdoa-me pelas vezes que fechei meus olhos.
Não notando as maravilhas desta vida.
Ignorando a Tua obra.
Olhando sempre para dentro de mim.

Perdoa-me por me afastar de Ti.
E depois reclamar por estar só.
Foi minha culpa.
Somente minha...

Perdoa-me!
Volta Teus olhos para mim.
Escuta o meu coração.
E me conduz neste caminho.

Me ajuda a me encontrar.
Afastar a escuridão.
Encontrar de novo a paz.
Perdão, Jesus, perdão!

(Elís Cândido/maio de 2010)

Canção Mínima


No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta

Cecília Meireles

A ausente


Os que se vão, vão depressa.
Ontem, ainda, sorria na espreguiçadeira.
Ontem dizia adeus, ainda, da janela.
Ontem, vestia, ainda, o vestido tão leve cor-de-rosa.

Os que se vão, vão depressa.
Seus olhos grandes e pretos há pouco brilhavam.
Sua voz doce e firme faz pouco ainda falava,
Suas mãos morenas tinham gestos de bênçãos.

No entanto, hoje, na festa, ela não estava.
Nem um vestígio dela, sequer.
Decerto sua lembrança nem chegou, como os convidados
Alguns, quase todos, indiferentes e desconhecidos.

Os que se vão, vão depressa.
Mais depressa que os pássaros que passam no céu.
Mais depressa que o próprio tempo,
Mais depressa que a bondade dos homens,
Mais depressa que os trens correndo nas noites escuras,
Mais depressa que a estrela fugitiva
Que mal faz um traço no céu.

Os que se vão, vão depressa.
Só no coração do poeta, que é diferente dos outros corações,
Só no coração sempre ferido do poeta
É que não vão depressa os que se vão.

Ontem ainda sorria na espreguiçadeira,
E o seu coração era grande e infeliz.
Hoje, na festa, ela não estava, nem a sua lembrança.
Vão depressa, tão depressa os que se vão...

Augusto Frederico Schmidt

Canto Das Três Raças


Ninguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do Brasil

Um lamento triste
Sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou

Negro entoou
Um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou

Fora a luta dos Inconfidentes
Pela quebra das correntes
Nada adiantou

E de guerra em paz
De paz em guerra
Todo o povo dessa terra
Quando pode cantar
Canta de dor

ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô

ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô

E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador

Esse canto que devia
Ser um canto de alegria
Soa apenas
Como um soluçar de dor

13 de Maio


O dia de hoje não deve ser um dia comum. Deve ser um dia para reflexão e oração. Um dia especial. Foi em 13 de maio de 1888 que a princesa Izabel assinou a Lei Áurea, abolindo a escravidão em nosso país. Foi também nesta data que Nossa Senhora fez sua primeira aparição aos pastorinhos, na cidade de Fátima. Não estamos, pois, em um dia especial?!
É doloroso perceber que após 122 anos da Abolição, nosso povo não é livre. Após tantos anos, ainda estamos presos às mesmas correntes que nos prendiam naqueles tempos. Correntes da ignorância, do preconceito, da falta de compreensão, de irmandade. Precisamos nos libertar destas correntes e nos enxergar como realmente somos: somos todos frutos da miscigenação, da fusão das raças, da junção das cores. Não somos absolutamente brancos ou absolutamente negros. Somos uma mistura!
Correm em nosso sangue as raízes do povo africano lutador e guerreiro trazido para o nosso país. Corre o sangue dos índios, verdadeiros donos desta terra, humilhados e escondidos nos confins das últimas reservas. Corre o sangue do império e da burguesia. O sangue brasileiro é colorido! Não podemos negar as nossas origens.
É preciso fazer com que tanta luta e sofrimento tenha valido à pena. Que não tenha sido em vão. É preciso abolir a escravidão das nossas almas, nos tornarmos livres, iguais, irmãos.
Nossa Senhora, em sua aparição em Fátima pediu-nos para rezar. É preciso rezar. É preciso acreditar. É preciso não perder a fé e a esperança! É preciso enxergar os mais humildes como nossos iguais. É preciso partilhar sentimentos. Nossa Senhora não apareceu para crianças pobres por acaso. Seus corações puros eram um campo fértil onde ela pôde semear as suas palavras.
E os nossos corações? Se ressecaram? Transformaram-se em um deserto de onde nada mais se colhe?
Neste dia especial, vamos refletir, repensar nossas atitudes, rever nossos conceitos e tentar contribuir para a construção de um mundo melhor.

A importância das Palavras


Ontem assisti a um filme que realmente valeu à pena: "P.S. Y love You". O filme tem uma história bonita, uma boa fotografia e bons atores. Confesso que chorei... Os filmes, às vezes me fazem isto... Além da história que envolve a trama principal, o filme destaca um tema que muito me agrada: a importância das palavras. Depois da morte de Gerry, vitimado por um tumor cerebral,sua esposa continua recebendo cartas escritas por ele em sua fase terminal. As cartas são repletas de palavras de conforto, orientações e lembranças que fazem com que Holly, a viúva, consiga suportar a difícil perda do marido. Todas as cartas terminam com a seguinte declaração: P.S. te amo!
Ao longo da história, as lembranças dos momentos vividos, as imagens, cheiros e sabores vão se perdendo,restando somente as palavras escritas naquelas cartas. E é mesmo assim. As palavras são mágicas. Uma vez ditas, criam vida, tornam-se música para os nossos ouvidos, poemas de amor recitados, acusações, defesas...
O mundo se transformou após o advento da escrita, passamos a registrar os nossos hábitos e tradições, a construir o nosso acervo cultural, a dar forma e vida às nossas idéias e pensamentos. Tudo em função das palavras.
Então por que é tão difícil usá-las? Por que é tão difícil falar? Por que nos calamos? Por que passamos a vida com vontade de dizer coisas que nunca dizemos? Não é contraditório? Temos tanto medo, tanta dificuldade de fazer uso daquilo que mais nos difere dos outros animais que é a nossa racionalidade, a nossa inteligência, a nossa capacidade de expressar idéias e pensamentos... As palavras só existem se forem ditas. Então diga! Diga o que você pensa, o que você sente, o que você busca! Diga que você ama, que você sofre, que sente medo...
Não espere que o filme da sua vida chegue ao final para você lamentar por tudo o que gostaria de ter dito e não o fez. Use este dom que Deus lhe deu e comunique-se! Tenho certeza de que há alguem esperando te ouvir.

Dia Mundial da Internet


No dia 17 de maio comemora-se o Dia Mundial da Internet. Não há como negar a importância desta ferramenta para a comunicação na sociedade moderna. Nosso mundo transformou-se em uma "aldeia global", onde a distância e o tempo não mais existem. Não da forma concreta como nossos avós conheciam. Hoje podemos nos comunicar com apenas "dois cliques". Navegamos por todo o mundo sem sair do lugar. Chega a ser assustador!
Nossos filhos realizam os trabalhos escolares sem ter que visitar uma biblioteca ou mesmo folhear um livro. A internet é a senhora absoluta e soberana. A dona de todas as respostas...
Neste mundo de tamanhas facilidades e atrativos, a responsabilidade dos pais em oferecer novas (ou seriam antigas?)opções de cultura, lazer e entretenimento torna-se imensa. Procure oferecer livros aos seus filhos. Não apenas os Ebooks, mas aqueles, reais, que precisamos ir passando as páginas com as mãos... Tenha prazer em levá-los ao cinema e ao teatro. Procure fazer com que conheçam os grandes nomes da nossa cultura, da nossa música, da nossa arte. Procure fazê-los compreender que a internet é uma ferramenta fantástica e cativante, mas não é a única. Temos que compreendê-la e utilizá-la com sabedoria, sem nos tornarmos seus escravos ou escravos daqueles que controlam as mídias.
Comemoremos este dia, sejamos cidadãos do nosso século, mas não nos deixemos escravizar!

Confidências


De tudo ganhei um pouco
deste enlouquecido século
que se vai e deixa a ternura
ameaçada de extinção.

Ganhei flores. Do segredo
de tantas já me esqueci.
Entre as prendas, guardo marcas
das dores que mereci.

Só me ampara uma certeza:
me dei todo no que fiz.
Comigo se acaba a mágoa
de perder o que mais quis.

(Thiago de Mello)

Quem sou eu?


Sou alvorecer, sou os raios dourados Do sol, sou anoitecer, as estrelas e o luar. Sou as místicas madrugadas Renascendo igual a uma flor orvalhada... Sou encanto, acalanto e nostalgia Sou alegria, sou a beleza da poesia Com sua sutileza indelével Inspirando meu dia-a-dia... Sou o inverso, sou verso, sou tema, Sou o clima, sou a rima ou não do poema. Sou um paradoxo, sou calmaria, sou explosão, Sou razão e ao mesmo tempo emoção... Sou tristeza, sou meus ais, Sou eterno aprendiz Aprendendo a manusear meu giz Na escrita dos meus gêneros textuais... Sou o verde esperança da mãe natureza, Sou a sinfonia dos passarinhos. Sou peregrino beija-flor Apaixonado pela delicadeza da flor... Sou meus erros e acertos, Não sou perfeito, sou ser humano Singrando mares e oceanos Na concretização dos meus sonhos... Sou mistério, sou hieróglifo, Sou a esfinge sobrevivente do tempo A ser decifrada em todos os momentos. Sou a força do meu pensamento.

Postado por Elias Akhenaton, em seu Blog "Beija-Flor Peregrino"

Oração Pelos Filhos


Oh! Deus

Olha para os meus filhos.
Fortifica-os para que cresçam felizes
e tenham olhos que lembrem
a tranqüilidade de um lago,
a firmeza de um rochedo
e a luz da esperança.

Dá-lhes uma saúde integral,
uma inteligência completa
e um sentimento vivo.

Põe nos seus corações
a reverência aos Teus ensinamentos,
o respeito aos outros,
o amor ao trabalho,
a dedicação ao estudo,
a candura e a obediência.

Para tornar-me digna deles
e não lhes transmitir nervosismo,
desajuste, tristeza, medo ou maldade,
envolve-me em tranqüilidade, equilíbrio,
alegria, coragem e bondade.

E ensina-me a descobrir
as virtudes que eles têm,
a elogiá-los sem exageros e
a corrigi-los com sabedoria.

Em primeiro lugar, pois,
modela-me a alma grande e generosa,
para amá-los na semelhança do Teu amor.

Obrigado! Meu Deus! Obrigado!

Extraído de: Preces do Coração

A Casa


A minha casa é aquela
com a árvore amarela
bem em frente ao portão.

Minha casa é aquela
no alto do grande morro
onde repousam as almas
em silêncio e solidão.

Do morro da minha casa
vejo a cidade distante
com suas luzes piscando
num Natal que não se acaba.

A minha casa é aquela
que quando chego na janela
vejo as pipas que os meninos
durante os sopros agostinos
não se cansam de empinar.

Os ventos daqui sussurram
nas folhas das velhas palmeiras
e as maritacas matreiras
conversam ao amanhecer.

Nas paredes da velha casa
guardo tesouros sem fim
lembranças doces da infância
da minha família e de mim.

Quer conhecer a minha casa?
Minha casa é aquela
com a árvore amarela...


(Elís Cândido/maio de 2010)

A janela encantada



A vida sempre foi boa comigo.
Quando soube que o meu coração
estava carregado de sombras,
e que ele só se alimentava de luz,
abriu uma janela no meu peito
para que por ele possam entrar
o resplendor do orvalho,
o fulgor das estrelas
e o invisível arco-íris do amor.

THIAGO DE MELLO
em "De uma vez por todas"

Natureza humana

Cheguei. Sinto de novo a natureza
Longe do pandemônio da cidade
Aqui tudo tem mais felicidade
Tudo é cheio de santa singeleza


Vagueio pela múrmura leveza
Que deslumbra de verde e claridade
Mas nada. Resta vívida a saudade
Da cidade em bulício e febre acesa

Ante a perspectiva da partida
Sinto que me arranca algo da vida
Mas quero ir. E ponho-me a pensar


Que a vida é esta incerteza que em mim mora
A vontade tremenda de ir-me embora
E a tremenda vontade de ficar.


Vinicius de Moraes

Palmas para quem sabe o que diz...



CARTA PUBLICADA NO ESTADÃO


Carta-resposta de um Juiz ao Presidente Lula publicada no Estadão.
Veja a carta que um juiz colocou no jornal de hoje:
Carta do Juiz Ruy Coppola (2º TAC) .





Mensagem ao presidente!


Estimado presidente, assisti na televisão, anteontem, o trecho de seu discurso criticando o Poder Judiciário e dizendo que V. Exa. e seu amigo Tarso, ministro da Justiça, há muito tempo são favoráveis ao controle externo do Poder Judiciário, não para 'meter a mão na decisão do juiz', mas para abrir a 'caixa-preta' do Poder...


Vi também V. Exa. falar sobre 'duas Justiças' e sobre a influência do dinheiro nas decisões da Justiça. Fiquei abismado, caro presidente, não com a falta de conhecimento de V.Exa., já que coisa diversa não poderia esperar (só pelo fato de que o nobre presidente é leigo), mas com o fato de que o nobre presidente ainda não se tenha dado conta de que não é mais candidato. Não precisa mais falar como se em palanque estivesse; não precisa mais fazer cara de inconformado, alterando o tom da voz para influir no ânimo da platéia. Afinal, não é sempre que se faz discurso na porta da Volks. Não precisa mais chorar. O eminente presidente precisa apenas mandar, o que não fez até agora.


Não existem duas Justiças, como V. Exa. falou. Existe uma só. Que é cega, mas não é surda e costuma escutar as besteiras que muitos falam sobre ela. Basta ao presidente mandar seu amigo Tarso tomar medidas concretas e efetivas contra o crime organizado. Mandar seus demais ministros exercer os cargos para os quais foram nomeados. Mandar seus líderes partidários fazer menos conchavos e começar a legislar em favor da sociedade. Afinal, V. Exa.. foi eleito para isso.


Sr. presidente, no mesmo canal de televisão, assisti a uma reportagem dando conta de que, em Pernambuco (sua terra natal), crianças que haviam abandonado o lixão, por receberem R$ 25,00 do Bolsa-Escola , tinham voltado para aquela vida (??) insólita simplesmente porque desde janeiro seu governo não repassou o dinheiro destinado ao Bolsa-Escola .


Como se pode ver, Sr. presidente, vou tentar lembrá-lo de algumas coisas simples. Nós, do Poder Judiciário, não temos caixa-preta. Temos leis inconsistentes e brandas (que seu amigo Tarso sempre utilizou para inocentar pessoas acusadas de crimes do colarinho-branco) . Temos de conviver com a Fazenda Pública (e o Sr. presidente é responsável por ela, caso não saiba), sendo nossa maior cliente e litigante, na maioria dos casos, de má-fé. Temos os precatórios que não são pagos.. Temos acidentados que não recebem benefícios em dia (o INSS é de sua responsabilidade, Sr. presidente).


Não temos medo algum de qualquer controle externo, Sr. presidente. Temos medo, sim, de que pessoas menos avisadas, como V. Exa. mostrou ser, confundam controle externo com atividade jurisdicional (pergunte ao seu amigo Tarso, ele explica o que é). De qualquer forma, não é bom falar de corda em casa de enforcado.


Evidente que V. Exa. usou da expressão 'caixa-preta' não no sentido pejorativo do termo. Juízes não tomam vinho de R$ 4 mil a garrafa. Juízes não são agradados com vinhos portugueses raros quando vão a restaurantes. Juízes, quando fazem churrasco, não mandam vir churrasqueiro de outro Estado. Mulheres de juízes não possuem condições financeiras para importar cabeleireiros de outras unidades da Federação, apenas para fazer uma 'escova'. Cachorros de juízes não andam de carro oficial. Caixa-preta por caixa-preta (no sentido meramente figurativo), sr. presidente, a do Poder Executivo é bem maior do que a nossa.




Meus respeitos a V. Exa. e recomendações ao seu amigo Márcio.


P.S.: Dê lembranças a 'Michelle'. (Michelle é cachorrinha do presidente que passeia em carro oficial)


Ruy Coppola, juiz do 2.º Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo, São Paulo





VAMOS REPASSAR...