Chovendo na Praça


Imagem dos atores da Cia "Tomaraquidê"

Paraíba do Sul recebe espetáculo de Teatro de Rua

A Fundação Cultural de Paraíba do Sul, em parceria com o  Ministério da Cultura traz para o município o Projeto “Tomaraquidê”.
O espetáculo é aberto à população e será apresentado na Praça Garcia (Jardim Novo), neste sábado (08/09/12), às 11h e às 15h30.
O projeto “Tomaraquidê” prevê a circulação do espetáculo homônimo, em cidades localizadas à margem de ferrovias, e em comunidades pouco assistidas de aparelhos culturais.
Todas as apresentações do espetáculo serão realizadas num Ônibus, com aparência de locomotiva, adaptado para ser uma caixa cênica em quadras e praças com a mesma qualidade de uma sala de espetáculos.
O roteiro do espetáculo prevê a participação das pessoas das comunidades com o intuito de valorizar e dar visibilidade a cultura local. É neste contexto que o Chovendo Letras terá sua oportunidade de participação, com a realização de um Sarau Literário. Na oportunidade contaremos com a participação do jovem escritor Luis Felipe Leal, da Banda 17 de março e da Academia Studio de Dança Gisele, com as meninas do Projeto Dançar.
O projeto se encerra com a edição e distribuição em bibliotecas públicas de um livro/documento com o registro de todas as apresentações, o que contribuirá para a valorização e difusão da cultura local de cada cidade visitada. 
O Chovendo Letras espera contar com a presença de todos!



Anseios


A estação da colheita se foi...
Vivo um inverno triste
onde as tardes são cinzentas
e não há calor que me aqueça o coração.
Anseio a primavera...
Que ela me traga as cores,
as flores
talvez novos amores...

(Elís Cândido/ agosto de 2012)

A Complicada Arte de Ver




Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. “Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões – é uma alegria!

Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica.
De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões… Agora, tudo o que vejo me causa espanto.”
Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as “Odes Elementales”, de Pablo Neruda. Procurei a “Ode à Cebola” e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: ‘Rosa de água com escamas de cristal’. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta… Os poetas ensinam a ver”.
Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.

William Blake sabia disso e afirmou: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado.
Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
Adélia Prado disse: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”.
Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem.
“Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios”, escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido.
Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada “satori”, a abertura do “terceiro olho”. Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: “Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram”.

Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, “seus olhos se abriram”.
Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em “Operário em Construção”: “De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa – garrafa, prato, facão – era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção”.

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas – e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre.
Os olhos não gozam… Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.
Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras.
Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: “A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas”.
Por isso – porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver – eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar “olhos vagabundos”…
Rubem Alves – Educador e escritor.
Texto originalmente publicado no caderno “Sinapse”, jornal “Folha de S. Paulo”, em 26/10/2004.

A Cadelinha Sem Nome


Na saída do trabalho me deparei com uma cadelinha perdida.
Ela era tão pequena e assustada, tão indefesa e frágil que imediatamente a acomodei no meu colo sem a menor sombra de dúvidas: ela iria para casa comigo!
Avisei pelos arredores que a havia encontrado para que, caso alguém a estivesse procurando, pudesse vir buscá-la... até hoje ninguém veio. Já se passaram quatro dias. 
A pequena cadelinha, agora bastante cheirosa e agasalhada, alimentada e acomodada, me olha com seus olhinhos tristes. Ela nunca latiu. Nunca "falou nada" como dizemos aqui em casa. Pela manhã, quando abro o vidro da porta da cozinha, ela me vê e chora. Apenas isto, um pequeno resmungo.
Não é nova a cadelinha. Pela experiência que tenho com animais (tenho cinco outros cachorros), percebo que ela já tem alguma idade.
Até hoje ela não tem nome. Não conseguimos escolher um. As crianças já tentaram. Escolhemos um nome, chamamos, ela olha, abana o rabinho, dá as costas e entra na casinha...
Isto me fez pensar na vida...
Nós somos uma soma daquilo o que os outros dizem que somos. Um pouco daquilo o que as outras pessoas nos fazem ser. Sozinhos, não somos completos.
A cadelinha perdida certamente já tem um nome. Um nome que ela sabe qual é. Que alguém sabe qual é. Um nome através do qual ela se identifica como ser. Mas como iremos saber quem ela é? Ela não fala! Ela não pode me dizer quem é... 
O fato de não sabermos o nome dela, a maneira que ela foi criada, seus hábitos, seu passado, estabelece uma distância entre nós que é intransponível. Ela nunca mais será a mesma! Por mais que todos lá em casa a amemos, por mais que ela ganhe colo, carinho e conforto, sempre irá lhe faltar alguma coisa, alguém.
Me entristece demais saber que nunca poderei fazer a minha pequena cadela totalmente feliz...
Se fosse você quem estivesse no lugar da minha cadela, completamente perdido, sem saber sequer o se nome e distante de tudo o que considerava "seu", como estaria se sentindo agora?
Pensemos nisto, neste aprendizado. Precisamos dos outros para sermos plenos! Todas as pessoas que fazem parte das nossas vidas são fundamentais, são especiais. Cada uma delas tem um papel único e de grande importância.
Pense nisto!

(Elís Cândido/agosto de 2012)


Um Dia Serei Árvore

Imagem e texto retirados do blog www.sebastiaobuba.blogspot.com

"...Para entrar em estado de árvore é preciso partir de um torpor animal de lagarto às três horas da tarde, no mês de Agosto.
Em dois anos a inércia e o mato vão crescer em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até ao mato sair na voz.
Hoje eu desenho o cheiro das árvores."

(Manoel de Barros) 


Frases e Pensamentos


"De que adianta ser livre se você não sair do lugar?"

(Elís Cândido/agosto de 2012)

“Os livros da minha vida”


Os Livros da Minha Vida...
Minha vida sempre esteve atrelada ao mundo da leitura. Sou autodidata e isto já diz muito a meu respeito.... Leio desde gibis a enciclopédias. Mas alguns livros marcam nossa vida e ficam guardados num cantinho especial do coração. No meu caso, são eles:
Este romance belíssimo faz parte de uma coleção que li por volta dos meus 10 ou 12 anos. É um livro raro e maravilhoso. Li toda a coleção e sou fã do autor.
Quem não amou este Menino? Eu me identificava demais com ele...
Na adolescência quase perdia o fôlego com a maneira sensual do autor tratar da vida e dos sentimentos desta mocinha... 
Num período mais papo-cabeça... Pensar o futuro como ele pensou é realmente admirável!
O mais belo de todos os romances! Chorei ao ler o livro e já o reli várias vezes.
Uma narrativa triste contada pela própria morte. Imperdível!
FANTÁSTICO este livro! De uma sinceridade nas palavras que faz chorar. Nos dá  noção do alcance das nossas atitudes(ou omissões) na vida alheia.

Ler é um hábito que me torna plena. Espero que todas as pessoas tenham a chance de ter pelo menos um livro pelo qual se apaixonaram na vida. Eu, se fosse ficar aqui recordando, não saberia até onde chegaria esta postagem... 
Como afirmou o Marquês de Maricá: " Uma boa leitura dispensa com vantagem a companhia de pessoas frívolas".

Abraços e até a próxima!