Pelo direito de falar


Odeio as pessoas que se calam. Se omitem.
Talvez eu deva dizer que odiar seja demasiado exagero, mas, definitivamente, eu as desprezo.
Sei que a minha característica mais marcante é minha língua afiada, minha mania de falar pelos cotovelos, minha incansável tagarelice... Sei também que nem todas as pessoas são ou deveriam ser assim.
Muitas são mais tímidas, mais retraídas, mas todas devem ter opinião, vontade própria, princípios... Ou não?!
Não consigo compreender pessoas que se calam, que consentem com atitudes erradas, com desmandos e desvairios sem sequer questionar.
Este estilo "vaca de presépio" me irrita!
Me irrita perceber que cada vez mais as pessoas escolhem ficar caladas, omissas, a tomar uma postura coerente com seus pensamentos e ideais. Escolhem o "lugar seguro"...
Esta mania de ficar bem com tudo e com todos está transformando as pessoas em seres sem direção. Ninguém consegue ficar sempre bem com todos, em algum momento vamos ter que discordar, discutir, argumentar...

Quando esta síndrome da vaca de presépio afeta políticos então, meus Deus!! Como é possível governar, gerir, desenvolver uma carreira política quando se tem medo de falar, de enfrentar, de dar a cara a tapa?
A mim, parece sintoma de fraqueza...
Governar é, na maioria das vezes, desagradar, discordar, questionar. Ser justo ou ser bom? Agradar a todos ou fazer o que é certo para a maioria? Ser bom ou ser omisso?
Eu governo a minha casa, a minha família, os meus filhos... Nem sempre consigo agradá-los. Mas sempre tento fazer o que é certo! Não me encolho ou me escondo quando as crises aparecem... Não me calo!
Muitas vezes sou eu a voz que orienta. Outras vezes sou eu quem precisa ser orientada por eles. Mas, se eu me calo, como eles irão saber? Como nós vamos saber?
Escolho sempre falar.
Escolho sempre dizer aquilo que penso e o que sinto.
Escolho me expor a me esconder em falsas posturas.

Não sei economizar palavras!
Mesmo que elas não agradem.
Mesmo que não sejam o esperado.
Escolho sempre o direito de falar.

(Elís Cândido/setembro de 2010)

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