Delirare


É um vício, meu Deus, estou perdido!
Já não sei nem mais quem sou.
Minha identidade se desfez há tempos.
Nem um sonho me restou.
Vivo trôpego pelas ruas,
malabarista equilibrado no fio da navalha.
Caminho por entre a multidão,
mas ninguém vê que ali estou.
Sou um trapo.
Maltrapilho.
Farrapo humano.
Degradação de tudo o que fui.

Não foi minha escolha.
Não desejei tornar-me assim...
Apenas segui o meu caminho,
e me perdi em algum lugar...
Já não sei mais voltar!
Não sei, não consigo me lembrar...
Tenho vozes em meus ouvidos,
que não me deixam pensar.
Não me deixam em paz!
Sombras me acompanham
durante os dias e as noites.
Apenas elas.
E as vozes.
Ninguém mais.

Todos se foram...
Mas não os culpo.
Desistiram de mim faz tempo...
Talvez no mesmo tempo em que eu mesmo desisti
de mim.
Da vida.
De tudo.

Existência maldita!
De que me serve viver?
Cadáver em forma humana...
Anseio logo poder morrer,
pois minha identidade perdi faz tempo,
já nem sei mais quem sou...

(Elís Cândido/julho de 2012)

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