A Cadelinha Sem Nome


Na saída do trabalho me deparei com uma cadelinha perdida.
Ela era tão pequena e assustada, tão indefesa e frágil que imediatamente a acomodei no meu colo sem a menor sombra de dúvidas: ela iria para casa comigo!
Avisei pelos arredores que a havia encontrado para que, caso alguém a estivesse procurando, pudesse vir buscá-la... até hoje ninguém veio. Já se passaram quatro dias. 
A pequena cadelinha, agora bastante cheirosa e agasalhada, alimentada e acomodada, me olha com seus olhinhos tristes. Ela nunca latiu. Nunca "falou nada" como dizemos aqui em casa. Pela manhã, quando abro o vidro da porta da cozinha, ela me vê e chora. Apenas isto, um pequeno resmungo.
Não é nova a cadelinha. Pela experiência que tenho com animais (tenho cinco outros cachorros), percebo que ela já tem alguma idade.
Até hoje ela não tem nome. Não conseguimos escolher um. As crianças já tentaram. Escolhemos um nome, chamamos, ela olha, abana o rabinho, dá as costas e entra na casinha...
Isto me fez pensar na vida...
Nós somos uma soma daquilo o que os outros dizem que somos. Um pouco daquilo o que as outras pessoas nos fazem ser. Sozinhos, não somos completos.
A cadelinha perdida certamente já tem um nome. Um nome que ela sabe qual é. Que alguém sabe qual é. Um nome através do qual ela se identifica como ser. Mas como iremos saber quem ela é? Ela não fala! Ela não pode me dizer quem é... 
O fato de não sabermos o nome dela, a maneira que ela foi criada, seus hábitos, seu passado, estabelece uma distância entre nós que é intransponível. Ela nunca mais será a mesma! Por mais que todos lá em casa a amemos, por mais que ela ganhe colo, carinho e conforto, sempre irá lhe faltar alguma coisa, alguém.
Me entristece demais saber que nunca poderei fazer a minha pequena cadela totalmente feliz...
Se fosse você quem estivesse no lugar da minha cadela, completamente perdido, sem saber sequer o se nome e distante de tudo o que considerava "seu", como estaria se sentindo agora?
Pensemos nisto, neste aprendizado. Precisamos dos outros para sermos plenos! Todas as pessoas que fazem parte das nossas vidas são fundamentais, são especiais. Cada uma delas tem um papel único e de grande importância.
Pense nisto!

(Elís Cândido/agosto de 2012)


Nenhum comentário:

Postar um comentário