Pelo Buraco da Fechadura


Pelo buraco da fechadura
me deleito e me encanto
quando a vejo em seu canto
escovando a cabeleira.

Sentada numa banqueta
em frente ao espelho antigo
seus cachos caem nos ombros
e no alvo colo escondido.

Observo seu capricho
movendo as mãos
com languidez,
quase sufoco e enlouqueço,
perco toda a lucidez.

Ela é minha diva
e perdição,
é a razão do meu viver.
por ela faço qualquer loucura,
desde matar até morrer.

Sonho o dia do encontro,
em que poderei tocar seu rosto,
rompendo esta maldição,
este castigo a mim imposto.

Sou o lacaio e ela a dama.
Sou seu servo e ela a ama.
Eu sou ébano e ela alvura.
Só me resta admirá-la,
pelo buraco da fechadura.

(Elís Cândido/maio de 2012)


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