Hamlet ou omelete?


       
Ser ou não ser?
Eis a questão!
Como pensar no futuro
Se hoje nos falta o pão.

Comer o omelete de hoje
Ou chocar pintos para amanhã?
Seria fácil decidir
Se a fome não fosse tamanha...

Para um povo sem dinheiro
É difícil escolher
Alimentar os filhos primeiro
Ou pensar no que vão ser!

Como pensar no futuro
Se sequer temos presente?
Isto é ser pessimista?
Me responda, minha gente!

Se o povo não tem pão,
Pois que comam então brioche!
Nossa fome é chacota
Nossa dor vira deboche.

Ser ou não ser?
Pobre povo brasileiro
Seu futuro a quem compete?
Vamos ser o que então?
Hamlet ou omelete?


(Elís Cândido/março de 2011)

O Tempo e Eu

imagem do Google
Todos os dias quando acordo
Não tenho mais o tempo que passou
Não sei quanto tempo ainda tenho
Mas sei que já não tenho todo o tempo do mundo.

Todos os dias antes de dormir
Tento esquecer como foi o dia
Dormir com a cabeça vazia...

Sigo sempre em frente
Não tenho tempo a perder
Já perdi tempo demais!

O meu suor sagrado
É sagrado apenas para mim
E é tão sincero quanto este gosto amargo
De não ser reconhecido

Tempo perdido!

Já não sou tão jovem.
Vejo o sol nestas manhãs tão cinzas
E sei que o mundo é selvagem
E que não serão muitas
As manhãs...

Então me abraça forte!
Me diz mais uma vez que nós estamos distantes disso tudo.
Que temos nosso próprio tempo.
Nosso próprio tempo...
Nosso velho tempo...
Nosso eterno tempo.

(Elís Cândido/março de 2011)

Tic-tac

Salvador Dali - "A Persistência da Memória"
Tic-tac
O relógio dita a hora
Hora de chegar
Hora de ir embora

Dependo dele todo o dia
Para acordar  ele desperta
Se me distraio
Ele me guia

Tic-tac
O relógio vai fazendo
O tempo todo sem parar
Vou com ele trabalhando
Nunca posso me atrasar

Acorde!
Ande!
Almoçe!
Jante!

Tic-tac
É o relógio a comandar
Um carrasco este patrão...
Qualquer dia me revolto
E atiro ele no chão!

(Elís Cândido/março de 2011)

A Despedida


Minha avó dizia que quando morre alguem muito querido ou especial, a natureza chora. Algumas vezes pude ver dias ensolarados transformados em tardes escuras de chuvas torrenciais e ventos pavorosos, como se a natureza estivesse rasgando suas entranhas de dor e de tristeza...
Hoje aconteceu exatamente assim.
Amanheceu um dia de sol e calor. Céu azul. Paisagem inspiradora de paz e alegria. No meio da tarde, porém, alguma coisa mudou... Nuvens pesadas cobriram o céu e trovoadas podiam ser ouvidas por toda parte. Neste momento, enquanto escrevo, parece ser quase noite e o vento sacode as folhas das árvores.

Morreu José Alencar.
Aos 79 anos, após  lutar contra  cânceres que teimavam em derrotá-lo, o ex Vice-Presidente do governo Lula teve sua morte declarada.
Não saberia dizer muito da trajetória política deste homem, que sei ser mineiro, de Muriaé, nascido pobre, em uma família de quinze filhos. Foi balconista, empresário, iniciou sua carreira política em 1994, candidatando-se ao governo da sua Minas Gerais...
O que mais fica na minha lembrança, a respeito deste homem, são sua lisura, sua postura crítica, que por vezes gerava comentários polêmicos, sua fidelidade para com seus ideais. Um homem sem medo de falar. Sem meias palavras...
Gostava de ouvi-lo dar entrevistas.
Torcia por sua recuperação a cada volta ao hospital.
Sofri com esta perda.
Enquanto a chuva já cai lá fora, nesta tarde triste, transcrevo algumas de suas palavras que mais ficaram marcadas em mim:

"Não tenho medo da morte, porque não sei o que é a morte. A gente não sabe se a morte é melhor ou pior. Eu não quero viver nenhum dia que não possa ser objeto de orgulho. Peço a Deus que não me dê nenhum tempo de vida a mais, a não ser que eu possa me orgulhar dele".

Certamente nós poderemos nos orgulhar...

Cacos


imagem do google






















Hoje, perdi a cabeça
Passei dos limites
Perdi o controle
Me vi entre gritos e choros

Palavras que não se deve dizer
Saltaram de dentro de mim
Numa fúria louca
Que nem eu conhecia

Me descontrolei.
Deixei o desespero falar mais alto
Minha insatisfação se rebelar
Soltei as rédeas...

Minha cabeça ainda dói
A garganta arranha
Com os cacos que sobraram
Me ergo e sigo em frente.

Afinal, o que fazer
Se amanhã vai ser igual?

(Elís Cândido/março de 2011)