Incoerência














Logo, logo, não tão cedo
As contradições se encontrarão
E nessa separação momentânea
Seremos um para o outro
O que sempre fomos
Eternos desconhecidos

(Fabiano Freitas, publicado no Recanto das Letras em 16/03/2011)

Catarse




















As casas dormem ainda
ensaiando um silêncio de morte improvisada.
Nas janelas fechadas
oculta-se um rumor de luzes estranguladas.
O fogo adormecido da quimera
envelhece sob um céu sem luar
junto à rebentação das sombras
onde decifro a solidão fria do inverno
no crepitar da memória incandescente.

Personagem de encruzilhada, busco
um elo que faça ainda sentido
com qualquer coisa conhecida,
enquanto assisto ao desgaste lento das horas
a cavarem um fosso de incertezas
no parapeito arruinado da esperança.
Respiro todos os segredos da escuridão
no mármore arruinado onde repousa
um silêncio de asas mortas
e o gemer surdo do sono adiado.

Ao fundo do corredor
no átrio vago da demora
range a porta da alvorada
a abrir-se para a claridade inesperada do dia.


(postado por Runa, no blog Seguindo o Escoar do Tempo)

Um pouco de cor e de beleza...


Aquarela Animada, 1923 - Wassily Kandinsky


Para Elas


Maternidade- Pablo Picasso





















amor que se dedica
amor que não se explica
até quando se vai
parece que ainda fica
olhando você sair
sabendo que vai cair
deixar que saia
deixar que caia

por mais que vá sofrer
é o jeito de aprender
e o teu caminho
só você vai percorrer
se você vence, eu venço
se você perde, eu perco
e nada posso fazer
só deixar você viver

enchemos a vida
de filhos
que nos enchem a vida
um me enche de lembranças
que me enchem
de lágrimas
outro me enche de alegrias
que enchem minhas noites
de dias
outro me enche de esperanças
e receios
enquanto me incham
os seios

amor que se dedica
amor que não se explica
até quando se vai
parece que ainda fica
olhando você sair
sabendo que vai cair
deixar que saia
deixar que caia

por mais que vá sofrer
é o jeito de aprender
e o teu caminho
só você vai percorrer
se você vence, eu venço
se você perde, eu perco
e nada posso fazer
só deixar você viver

só olhar você sofrer
só olhar você aprender
só olhar você crescer
só olhar você amar
só olhar você...


Autoras Alzira Espíndola e Alice Ruiz

Moça bonita


Monet





















Moça bonita
com um laço de fita
e cabelos ao vento
a lhe enfeitar

Sombrinha de renda
girando suave
nas mãos tão finas
que sonho em tocar

Vestido de seda
com flores do campo
e preguinhas míúdas
na saia a brincar

Seus pés - adivinho
são tão pequeninos
feito bailarina
a se equilibrar

Moça bonita
dos cabelos ao vento...

No meu pensamento
e em todo o meu ser
és o meu tormento,
meu doce lamento,
meu coração a bater.

(Elís Cândido/maio de 2011)