Minha filha de 16 anos queria muito fazer uma tatuagem. Todos os dias ela repetia a mesma história. Todos os dias nós olhávamos nos sites as imagens das "possíveis" tatuagens dela. Como toda mãe, ou quase toda, sei lá, me assustava um pouco a idéia de ver a minha filha sentada em uma cadeira com um cara meio estranho marcando (com dor e sangue) a sua pele tão alva com uma daquelas imagens. Parecia meio irracional. Coisa como marcar o gado... Enfim. Conversei muito com ela sobre os impedimentos que poderiam surgir para sua vida profissional, já que em algumas carreiras as tatuagens não são aceitas. Sobre o fato delas durarem "para sempre". Sobre o fato de saírem de moda. Sobre o fato de se envelhecer carregando uma tatuagem que poderá já não ter mais "nada haver" com o estilo de vida dela no momento. Conversei. Conversei. Conversei. Não convenci a ninguém.
Não consegui fazê-la desistir da tatuagem. Não consegui me convencer de que ela é proibida de fazê-la, já que é um desejo dela. Afinal de contas, ela não é minha propriedade. É minha filha. Seu corpo pertence a ela e não a mim. As decisões sobre o que fazer dele ou com ele cabem a ela e não a mim. Claro que, desempenhando meu papel de mãe, cabe a mim orientá-la, alertá-la, protegê-la. Mas no caso da tatuagem, resolvi deixar que ela faça.
Numa noite destas ela postou no Facebook a notícia de que iria fazer a tatuagem, que eu havia deixado. Caramba! Foram tantos comentários, tantos adolescentes dizendo que sonham com isto mas que seus pais os proibem. Tantos outros que já fizeram tatuagens escondido dos pais dizendo que é bem mais legal desta forma... Não sei como vai ser a reação das outras pessoas da família. Talvez não me compreendam. Normalmente não compreendem mesmo, mas sinto que fiz a escolha certa. Sinto que esta tatuagem irá gravar mais que uma imagem em minha filha, vai servir para deixar marcada a nossa aliança, a nossa relação tão franca e próxima, o respeito que temos uma pela outra. Isto é bom. Tão bom quanto ter 16 anos. Quanto desejar ser dono do mundo. Quanto acreditar que se pode ser dono do mundo. Tão bom quanto ser livre para sonhar e alcançar, qualquer coisa, seja ela gigantesca e complicada ou simples e pequena, como uma tatuagem.
(Elís Cândido/maio de 2012)
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