Abraça-me, mãe
Abraça-me, mãe
que acabei de chegar
do outro lado do túnel escuro
e não consigo ainda abrir os olhos
para desvendar a luz que me estendes.
Perdi as asas que tinha dentro de ti
quando de súbito se rasgou
aquele cordão que nos unia,
e tenho medo agora.
Ensina-me, mãe
a descobrir os caminhos por percorrer,
traça no chão de poeira
as fogueiras que sinalizam o horizonte,
tece o fio que irá guiar
a memória frágil dos meus passos
e o mistério das travessias por desvendar.
Sou ainda uma sombra clandestina
à procura de um novo lar.
Mostra-me, mãe
as cores novas deste sonho
que iremos sonhar acordados,
canta-me as doces melodias
que nunca ninguém cantou,
conta-me os segredos que não conheço
e as histórias que não vivi ainda,
afaga-me suavemente
com o tato perfumado dos teus dedos.
Tudo para mim
é um universo em expansão.
Embala, mãe
no teu colo de linho brando
este meu coração de papel
que bate impaciente
açoitado pelos ventos da madrugada,
sacia com o açúcar dos teus seios
esta sede que trago comigo,
este desejo de infinito,
esta sedução fugaz que me anestesia.
Dá-me uma razão para desafiar o futuro.
Protege-me, mãe
das grandes rodas do destino
que começaram já a girar
no roxo débil da minha carne,
acende com a luz do teu sorriso
os espelhos de prata do meu futuro.
Sou o barro que moldaste
na paciência demorada do teu ventre
para que a alquimia do sonho
se tornasse realidade.
Chego-me a ti, mãe
e lentamente me enrosco
no refugio quente dos teus braços
para que laves este corpo
ainda despido de tudo
com a água benta que transborda
do teu choro de felicidade.
Faltam-me as palavras ainda
para dizer quanto te amo.
Abraça-me, mãe.
(Retirado do blog Seguindo o Escoar da Tempo)
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