Andarilho


Longos são os caminhos da vida
Quilômetros a percorrer
Milhas já caminhadas
E intermináveis tropeços
               Muitas pedras no chão
               Buracos, poças, atoleiros.
               Tanta gente na contramão...
               Matagais e espinheiros.
                                Mas o bom andarilho não se cansa
                                Não se deixa vencer
                                Sacode a poeira dos ombros
                                E vai.
                                                 Talvez nem saiba para onde.
                                                 Talvez ninguém o espere.
                                                  Mas a estrada é a sua vida.
                                                  Ela, as noites e os dias.
                                 Seu coração andejo
                                 Sedento de chão
                                 Aponta o Norte
                                 Sempre mais adiante
            Então ele vai.
            Leva nos ombros lembranças
            Do tempo vivido (distante!)
            No coração um amor
            Motivo de ser um errante.
Neste caminho sem fim
Seus pés descalços já não queimam
Só sua alma é que chora
Por não saber onde ir
E mesmo assim ir-se embora.
                       

(Elís Cândido/para Anderson Yutaka e todos os que ainda procuram seu lugar no mundo)

O menino e o escuro














Porque este medo do escuro?
O que te assusta?
Meu pequeno menino

Monstros e feras?
Buracos no tempo?

O que não te deixa dormir?

Fecha os teus olhos com força
e se agarra no teu ursinho
Pensa que és um valente
um super-herói, um mocinho

E espanta pra longe este medo
que iniste em te dominar

Mas, se no meio da noite
ele teimar em voltar
foge pro meu abraço
que aqui ninguém vai te pegar

Dorme com Deus, meu menino
e sonha com os anjos também
que eles do céu te protegem
E sorriem, dizendo amém.

(Elís Cândido/ para meu filho Caio/ novembro de 2010)

Barcos ao Vento

imagem do goggle

Para onde vão meus semelhantes?
Para onde caminha a humanidade?
Não entendo o que eles fazem
O que eles querem
O que eles dizem

Parecem perdidos
Sem direção
Barquinhos sem rumo
Que o vento leva

O que procuram?
Será que sabem
Ou apenas velejam
E se deixam levar

Qualquer dia o vento muda de direção
E então...
O que será destes barquinhos??

(Elís Cândido/ fevereiro de 2011)






Ausência



















Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.


Carlos Drummond de Andrade

Salgada Saudade

De tudo o que tenho saudades
Das coisas que mais sinto falta
é do cheiro salgado do mar.

Sinto falta do seu azul
da imensidão sem fim
do vai e vem obediente
do seu cantarolar.

Das coisas boas da vida
que teimo sempre em lembrar
lembro do "Velho Baiano"
que também amava o mar.

O mar quando quebra na praia é bonito
já dizia o poeta
é bonito de se ver
é gostoso de se ouvir

É bom viver no mar
é bom morrer no mar
Triste é viver aqui distante.
Tão longe do meu lugar.

(Elís Cândido/ fevereiro de 2011)