A Praça

Praça Garcia
Tenho medo daquilo que os meus olhos verão quando se forem os tapumes.
Os tapumes, de certa forma, me protegem daquilo o que me espera lá.
Posso perceber, através de olhares furtivos, que o que me espera não me agrada...


Frios tubos.
Insensíveis blindex.
Luminárias robóticas.
Ares de modernidade.

Onde está aquela praça?
Aquela, que deu pouso ao Bandeirante.
Aquela, em cujas árvores descansou.
Aquela, que levava o seu nome.

Onde está o velho repuxo...
Que meus filhos olharam encantados
Com olhos de quem vê maravilhas!
Aquele velho repuxo, refresco e alívio
das andorinhas barulhentas no verão.
Estará lá?

Lembro bem do pequeno parquinho,
onde meus cabelos de menina
balançaram sob o vento,
nas tardes tranquilas,
depois da missa de domingo.

Naqueles bancos,
naquelas árvores,
no pequenino jardim,
ficaram segredos da minha juventude.

Onde estarão os meus segredos,
se lá não mais estiverem os bancos,
as árvores,
o jardim...
Para onde irão?

Tenho medo do que me espera
nesta praça, que já não é a minha.
Que já não traz história.
Que já não tem calor.

Uma praça que jaz.

(Elís Cândido/novembro de 2010)

Ponderações

Imagem de Daniela Conolly
Tenho uma tendência estranha de rejeitar tudo o que é modismo, tudo o que me parece meio imposto ou forçado. Não sigo tendências.
Confesso que esta minha mania as vezes me leva a cometer erros, a formular conceitos que não são verdadeiros, ou justos.
Na tentativa de não engolir o que me é imposto, fecho meus olhos para algumas coisas boas.
Foi assim com Vanessa da Matta.
Enquanto a mídia massacrava nossos ouvidos com a repetição sistemática dos seus maiores sucessos, eu teimava em não gostar do que ouvia.
Enquanto todos os programas de TV exibiam a cantora e falavam do seu notório talento, eu a classificava como "caricata". Via excessos em tudo o que ela fazia. Sua voz era chata. Sua presença de palco era exagerada...
Na verdade eu não me permitia ouvi-la verdadeiramente. O som entrava pelos meus ouvidos, mas não alcançava meu espírito.
E músicas devem ser escutadas com os ouvidos da alma.
Hoje, devo admitir meu erro e assumir que eu ADORO a Vanessa da Matta!
Sua música é pura vibração, talento, explosão de ritmos e de palavras.
A garota consegue passear entre ritmos como o reagge, o afro, a MPB pura, o samba, sem ser cansativa e sem perder a sua identidade musical.
Sua composição parece ter vida própria, ter brotado de dentro dela.
Ver Vanessa da Matta cantando, poder conhecer seu lado intérprete é como saborear uma aparição, uma divindade encarnada.
Ela se deixa dominar pelo ritmo, pela letra, pelo sentimento que a música invoca. Ela se transforma. Cresce. Fica mais bonita. Resplandece.
É inegável seu talento.
É impossível não gostar do seu trabalho.

Tenho pena de mim mesma, pelo tempo que perdi me privando de uma coisa assim tão boa.

(Elís Cândido/novembro de 2010)

Oração Particular


Senhor, me dê paciência!
Em todos os pedidos que eu Te faço,
Em todas as minhas orações,
Quando acordo e Te agradeço,
Quando me deito e Te entrego a minha alma,
Acrescenta, Senhor, um pedido de paciência.

Paciência para seguir em frente, mesmo com tantas dificuldades.
Paciência para educar meus filhos, tão arredios.
Paciência para tolerar as pessoas mesquinhas.
Paciência para não pisotear os mais fracos.
Paciência para a arrogância dos mais fortes.
Paciência para desempenhar minhas tarefas, tão banais, mas obrigatórias.
Paciência para suportar chefias sem preparo e sem noção.
Paciência para as conversas sem sentido algum.
Paciência para a incompreensão humana.
Para o descaso.
Para o desmando.
Para os que não se comprometem.
Paciência para esperar por dias melhores.
Por pessoas melhores
Por um mundo melhor.
Paciência para tolerar os meus erros.
Os meus defeitos.
A minha falta de paciência...

Ouve o pedido íntimo de um filho Teu.
Me dê paciência,
Meu Deus, paciência!

Paciência para seguir neste mundo, por motivos que só o Senhor conhece.

Amém.

Elís Cândido/novembro de 2010)

Ao amor antigo



O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Carlos Drummond de Andrade

Amizades sinceras


"Amizade sincera, é um santo remédio, um abrigo seguro..."
Esta frase é um trecho de uma música do Gonzaguinha, que participou de um Festival da Canção há muitos anos atrás, quando eu era ainda uma menina. Nunca mais me esqueci da letra. Até hoje, passados mais de trinta nos, ainda sei a canção de cor.
As amizades sinceras são exatamente assim. São um santo remédio para as horas de tristeza, de solidão, para as dificulades da vida. São um abrigo seguro, um porto, um pouso, para as vezes que nos sentimos perdidos, sem rumo. Uma amizade sincera é um tesouro que recebemos da vida.
Não poderia acreditar que existam pessoas que passam pela vida sem ter construido uma amizade. Sem ter experimentado o sabor e o prazer do que é ter uma amizade verdadeira.
Hoje, com os meus quase 40 anos, posso dizer com muito gosto que pude conquistar, ao longo dos caminhos da minha vida, algumas doces e verdadeiras amizades. Pessoas que eu amo, que me conhecem e me aceitam pela pessoa que eu sou. Não preciso fingir ou me disfarçar para estes amigos. Eles sabem dos meus erros, acertos, das minhas alegrias e dificuldades.
Eles sabem quem eu sou.
Não importa o tempo que passar. Não importa a distância entre nós. Estes amigos vão estar sempre guardados no meu coração e nas minhas lembranças, assim como a letra da música, que eu nunca esqueci. Serão sempre um doce lembrança.

Para vocês, Dudu, Gorete, Seu Naldo e Edinho, fica meu abraço forte e sincero e o muito obrigada por tudo o que sempre tive ao lado de vocês.
Estou muito feliz por ter um seguidor tão querido...


Elís Cândido/novembro de 2010)