Para onde as almas voam...



Para onde as almas voam?
Para onde vamos quando não estamos mais em nós?
Existe vida além desta que conhecemos?
Será a morte final ou recomeço?

Tantas são as perguntas. Enormes são os medos. Ritos e costumes se construiram e se perderam ao redor dela, a morte.
Diferentes são as maneiras de enfrentá-la, de vivenciá-la, de superá-la. Mas o temor é uma constante.
Talvez tenhamos medo da morte exatamente pela certeza que temos de que um dia a teremos que encarar. Desde o dia em que nascemos, esta certeza nos acompanha.
As religiões tentam dar o alento, o entendimento, o esteio. Cada uma a sua maneira, buscam explicar aquilo que é inexplicável. A relação vida e morte, matéria e espírito, início e fim.

Lendo e relendo sobre o tema, as teorias e os estudos, decidi ficar com a idéia Budista de morte, que , na minha opinião, é a mais simples, bonita e próxima de uma verdade científica.

Para os Budistas, quando morremos nossa parte física, nossa matéria, não morre, não acaba. Nos transformamos em partes de outras matérias, passamos a compor o universo através das partículas que se desagregam e se incorporam nas árvoes, nas plantas, no ar, em tudo o que tem vida. Assim, não morremos. Estaremos sempre vivos.
Também para eles, nossas palavras e ações transformam-se nas energias nelas contidas e espalham-se pelo cosmo. Por isso é tão importtante ter boas palavras, palavras de amor e paz. Por isso precisamos ter boas ações... Tudo o que fizermos e o que dissermos irá se transformar em energia e ficará vivo para sempre!

Gosto de pensar assim. É mais reconfortante acreditar que quando nossa matéria se for, ainda estaremos aqui. Ainda faremos parte do mundo.


Para mim não há mais mistérios...
As almas voam para jardins distantes.
Viram árvores e flores.
Viram estrelas, viram LUZ!

E não é isto o que sempre disseram?

(Elís Cândido/setembro de 2010)

Pelo direito de falar


Odeio as pessoas que se calam. Se omitem.
Talvez eu deva dizer que odiar seja demasiado exagero, mas, definitivamente, eu as desprezo.
Sei que a minha característica mais marcante é minha língua afiada, minha mania de falar pelos cotovelos, minha incansável tagarelice... Sei também que nem todas as pessoas são ou deveriam ser assim.
Muitas são mais tímidas, mais retraídas, mas todas devem ter opinião, vontade própria, princípios... Ou não?!
Não consigo compreender pessoas que se calam, que consentem com atitudes erradas, com desmandos e desvairios sem sequer questionar.
Este estilo "vaca de presépio" me irrita!
Me irrita perceber que cada vez mais as pessoas escolhem ficar caladas, omissas, a tomar uma postura coerente com seus pensamentos e ideais. Escolhem o "lugar seguro"...
Esta mania de ficar bem com tudo e com todos está transformando as pessoas em seres sem direção. Ninguém consegue ficar sempre bem com todos, em algum momento vamos ter que discordar, discutir, argumentar...

Quando esta síndrome da vaca de presépio afeta políticos então, meus Deus!! Como é possível governar, gerir, desenvolver uma carreira política quando se tem medo de falar, de enfrentar, de dar a cara a tapa?
A mim, parece sintoma de fraqueza...
Governar é, na maioria das vezes, desagradar, discordar, questionar. Ser justo ou ser bom? Agradar a todos ou fazer o que é certo para a maioria? Ser bom ou ser omisso?
Eu governo a minha casa, a minha família, os meus filhos... Nem sempre consigo agradá-los. Mas sempre tento fazer o que é certo! Não me encolho ou me escondo quando as crises aparecem... Não me calo!
Muitas vezes sou eu a voz que orienta. Outras vezes sou eu quem precisa ser orientada por eles. Mas, se eu me calo, como eles irão saber? Como nós vamos saber?
Escolho sempre falar.
Escolho sempre dizer aquilo que penso e o que sinto.
Escolho me expor a me esconder em falsas posturas.

Não sei economizar palavras!
Mesmo que elas não agradem.
Mesmo que não sejam o esperado.
Escolho sempre o direito de falar.

(Elís Cândido/setembro de 2010)

Vilarejo

Jevange
CASEBRES
"Há um vilarejo ali
Onde areja um vento bom
Na varanda, quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão

Pra acalmar o coração
Lá o mundo tem razão
Terra de heróis, lares de mãe
Paraíso se mudou para lá

Por cima das casas, cal
Frutas em qualquer quintal
Peitos fartos, filhos fortes
Sonho semeando o mundo real
(...)

Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e janelas ficam sempre abertas
pra sorte entrar

Em todas as mesas, pão
Flores enfeitando
Os caminhos, os vestidos, os destinos

E essa canção
Tem o verdadeiro amor
Para quando você for"

(MARISA MONTE)

Viagem


"A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: "Não há mais o que ver", sabia que não era assim. O fim da viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre."

(José Saramago)

Sou água


Sou água impura
sem cura,
em busca da transparência.
Sou água escura
sem resplendência.
Mas tenho a vontade de ser
água potável ofertada
aos que têm sede, golada,
sorvida, transfigurada.
Sou a água na parede
Lacrimejante do inverno.
Sou água em vapor no inferno
a tentar fuga sem rumo.
Sou água do fio de prumo
buscando o nível da vida.
Eis-me água estremecida
pela brisa sussurante
que o espelho desalisa.
Sou água que catalisa
A energia semovente.
Sou essa água corrente
em busca do mar sem fim.
Sou chuva de tempestade,
sou garoa da cidade,
sou a gota do rocio,
sou goteira, sou o rio,
rios que tenho em mim.


(Cleto de Assis/Curitiba, publicado em Banco da Poesia)

Intermináveis Tropeços


Seria a vida um eterno CAIR e LEVANTAR, uma repetição de "LEVANTA, SACODE A POEIRA E DÁ A VOLTA POR CIMA..."?
Às vezes tenho a sensação que é exatamente assim. Cair, respirar fundo, levantar... Pra cair novamente depois.
E não adianta tentar ludibriar a sabedoria da vida, ficando sentado, sem se levantar, meio que prevenindo um outro tropeço, um outro tombo.
Se você não se levanta, ainda assim a vida te derruba, te dá uma rasteira e te leva mais para o fundo, já que você já estava mesmo na "horizontal da vida".
É preciso se reenguer!
É preciso teimar em seguir em frente. E seguir!
É preciso não viver olhando sempre pelo nosso espelho retrovisor. Temos que olhar adiante. Perseverar.
Talvez esta seja a palavra: PERSEVERANÇA.
Nem sempre aquele que vence na vida é o mais forte, o mais inteligente, o mais bonito. Não! Ás vezes é aquele que persevera!
Acho que perseverança e fé são irmãs. Palavras que caminham juntas.
É difícil acreditar que alguém sem fé possa perseverar. Ou que alguém que persevera não tenha lá algum tipo de fé.
Não queira viver toda a sua vida na horizontal. Erga-se! Verticalize-se! Acredite em você e tenha perseverança!
Você pode cair ou tropeçar hoje, mas certamente vai se reerguer mais forte, com mais sabedoria, com mais vontade de acertar e de viver.
Vai aprender que a vida fica mais leve quando se contabiliza não os tropeços e as quedas, mas cada reerguida, cada decisão de seguir em frente, cada passo caminhado rumo a um futuro melhor.
Então, erga-se, persevere, siga em frente e seja feliz!

(Elís Cândido/setembro de 2010)

Um pouco de Cor e de Beleza...

Tarsila do Amaral
MANACÁ

Envelhecendo...


Envelhecer não é fácil...
Como fazer para me acostumar com este novo rosto que teima em aparecer diante do espelho? E estas novas formas, este novo corpo?
Tenho que conviver com alguém que não sou eu. Ou sou?!
Assisti um filme maravilhoso, chamado Tomates Verdes Fritos e uma das personagens tem uma fala que me atingiu em cheio. Ela dizia algo mais ou menos assim: Sou jovem demais para ser velha e velha demais para ser jovem...
É assim que me sinto hoje!
Como posso ser velha, uma coroa, tia, como dizem os amigos dos meus filhos, se ainda me sinto tão nova?
Ao mesmo tempo, já não posso mais ter certos comportamentos porque não sou mais uma garotinha de 19 anos. Até minha maneira de vestir e de falar já não pode mais ser a mesma...
Acho que estou vivendo uma segunda adolescência! É tão difícil me enquadrar nesta nova fase da vida. Eu não quero ser velha! Não me sinto velha! Mas também já não posso mais ser quem eu era antes. Por que eu ERA, não sou mais.
A sociedade é cruel conosco. Ela cobra, rotula, exige...
Quero poder envelhecer a meu tempo. Quero poder ser quem eu sou. Quem eu sinto que sou.
Não vou mudar a minha vida apenas para me adequar aos padrões.
Vou achar um meio termo.
E ser uma mulher madura e feliz!

Elís Cândido (setembro de 2010)

O tempo e as jabuticabas


“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver
daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela
menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela
chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir
quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos
para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem
para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir
estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões
de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo
majestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas
não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a
essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente
humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta
com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não
foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados,
e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse
amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.”

O essencial faz a vida valer a pena.

Rubem Alves